29 de agosto de 2006

CRIANÇAS DO MUNDO TODO

Crianças do mundo todo
Livro narra hábitos e traz belas fotos de meninos e meninas de diversos países

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket Amaior diversão das crianças do Havaí é fazer colares de flores
Que tal dar uma voltinha pelo globo terrestre e descobrir como vivem as crianças da Antártica, da Polônia, do Irã, do Nepal e de muitas outras nações? Ah! Você está com muitos compromissos agora e não pode viajar. Entendo... E se eu lhe disser que, para isso, você só precisa pegar carona em um livro que traz muitas informações sobre os pequenos habitantes das mais variadas regiões do mundo?

Melhorou, não é? Então, saiba que essa obra já está nas livrarias. Um mundo de crianças , da Editora Panda Books, é uma aventura pelo planeta afora. Seus autores – Ana Busch e Caio Vilela – viajaram por dezenas de países e trouxeram de lá várias fotos e também dicas de seus pequenos habitantes: as crianças.
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket Muitas crianças da Etiópia moram na zona rural.

Fazer essa viagem pelo mundo revelou que, embora de culturas diferentes, as crianças de países distintos têm, sim, muito em comum. “Claro que há diferenças de personalidade, mas, no geral, a molecada está sempre curiosa e disposta a conhecer o novo, o diferente, um hábito que os adultos acabam perdendo”, explica Caio Vilela, que ficou responsável por “clicar” meninos e meninas para as páginas do livro.
Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketO futebol também é uma paixão para os meninos do Irã.

Acompanhando as belas imagens, você encontra também textos sobre o dia-a-dia das crianças das mais diferentes nacionalidades. É a oportunidade de saber, por exemplo, que as crianças que moram em uma região chamada Nunavut , no norte do Canadá, precisam colocar muitos agasalhos antes de saírem para brincar. Isso porque o inverno lá é rigoroso e só há luz solar duas horas por dia. Uma rotina muito diferente da vivida pelos meninos e meninas havaianas, que costumam ir à praia, fazer festas à noite chamadas “luau” e gostam muito de churrasco de peixe.
Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketNo Vietnã, as crianças maiores cuidam das pequeninas.As crianças da Coréia do Sul, porém, ganham no quesito hábitos diferentes dos nossos. Quando vão ao cinema, por exemplo, elas não levam pipoca, como a maioria das pessoas no Brasil e em outros países do Ocidente, mas, sim, um saquinho de baratinhas bem fritas e crocantes para beliscarem.

Esquisito? Que nada, são apenas alguns dos hábitos das crianças que vivem em outros países e que merecem ser conhecidos!


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Um mundo de crianças
Autores: Ana Busch e
Caio Vilela
Editora: Panda Books
Tel.: (11) 3088-8444
Preço: R$ 28,90



Cathia Abreu
Ciência Hoje das Crianças
30/05/2007

http://cienciahoje.uol.com.br/92931

PHILIPPE ARIÉS

Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketA leitura da obra de Philippe Ariès nos permite ter contato com uma produção historiográfica notadamente datada. A primeira edição brasileira é a tradução de uma versão francesa de 1973, um resumo do estudo original publicado em 1960. A década de 1960 foi um período de consolidação do chamado movimento da "história nova", corrente que é apontada por alguns como responsável por uma "revolução francesa da historiografia". O estudo de Ariès possui dois fios condutores: o primeiro é a constatação de que a ausência do sentido de “infância”, tal como um estágio específico do desenvolvimento do ser humano, até o fim da Idade Média, abre as portas para uma interpretação das chamadas “sociedades tradicionais” ocidentais. O segundo é que este mesmo processo de definição da infância como um período distinto da vida adulta também abre as portas para uma análise do novo lugar assumido pela criança e pela família nas sociedades modernas.

Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketMPB para crianças
Compartilhar uma experiência verdadeiramente musical e romper com os estereótipos sobre a infância. Essa é a proposta dos músicos Paulo Tatit e Sandra Peres, que se uniram no projeto Palavra Cantada, em 1994, dispostos a encarar o desafio de fazer música de qualidade para crianças. O selo musical já conta com 20 títulos em seu catálogo. “Pé com pé” é o trabalho mais recente, um álbum duplo – um deles, apenas instrumental – com 15 canções inéditas, cada uma delas baseada num ritmo brasileiro. Em entrevista à ComCiência, Tatit fala da experiência de criar música popular brasileira para crianças, e que agradam não só a elas, mas também aos pais e educadores. Segundo ele, por se tratarem de músicas que comentam a infância e transmitem uma certa nostalgia aos adultos.

ESQUISITA COMO EU

Editora Projeto
Lança Esquisita como eu
Autora: Martha Medeiros
Ilustradora: Laura Castilhos


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Às vezes finjo que choro, e às vezes choro de verdade.
Mas preciso ter um motivo: por que está chorando, minha filha?
Mãe não deixa nada espalhado que junta.
Pai faz menos pergunta.



Martha, em sua estréia na literatura infantil, fala das esquisitices de cada um, pela voz de uma menina que se pergunta por que todos acham que ela é diferente. Numa narrativa em versos, divertida e com muito ritmo, a autora aborda o cotidiano das crianças e as faz pensar sobre o comportamento das pessoas. A ilustradora cria imagens muito ricas, explorando a tridimensionalidade

TANTO, TANTO!





Texto: Trish Cooke
Ilustração: Helen Oxenbury
Tradução: Ruth Salles
São Paulo: Ática,1997. 24p.
(25,5 x 30,5 x 0,5cm - 300 gr.)


Prêmio Kurt Maschler - 1995
Prêmio She/WH Smith's Under Fives Book Prize - 1995
Altamente Recomendado para a medalha Kate Greenaway - 1995
Indicado para o Prêmio Sheffield Children's Book
Indicado para o Prêmio Nottinghamshire Children's Book
Láurea "Altamente Recomendável - Tradução - Criança"
- 1997 - FNLIJ


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por Lucília Garcez

Tanto, tanto! é um texto de ficção realista que narra uma tarde de uma família comum de afro-ingleses. Trata-se do aniversário do pai da família e os parentes vão chegando pouco a pouco, sem que o leitor saiba bem por que aquelas personagens estão se reunindo. Todos que chegam querem abraçar, beijar, afagar e brincar com o bebê da família. Daí vem o título "Tanto, tanto! ". Há uma surpresa final com a chegada do pai e a festa de aniversário.

O texto é curto e explora o ritmo da linguagem, utilizando intensamente a reiteração de estruturas sintáticas e sonoras. O vocabulário é simples e faz parte do repertório de crianças pequenas.

É interessante a forma como o cotidiano é revestido de caráter poético pelo carinho com que as características particulares das personagens vão sendo reveladas: tia, tio, avó, primo adolescente. A simples reunião de uma família, de componentes de diversas faixas etárias, cada um com suas manifestações afetivas próprias, vai desenhando um painel terno de uma convivência alegre e fraterna.

O projeto gráfico é harmonioso, pois as ilustrações de página inteira complementam a narrativa, detalhando o que o texto apenas insinua. Pela ilustração é que sabemos que se trata de uma família de negros. E todos os detalhes (roupas, adereços, penteados) reforçam a caracterização definida pela cor da pele. Tudo é muito alegre e colorido. Os desenhos são simples, de traços bem definidos e motivação realista, coloridos com tons básicos. Chama atenção a movimentação sugerida para as figuras humanas, o que acentua a idéia de musicalidade e ritmo tropical que perpassa o texto. A tradução é cuidadosa e preserva essa intenção rítmica do texto original.

O tamanho da fonte utilizada é apropriado à natureza do texto, e ele pode ser colocado ao lado de outras obras brasileiras que se prestam à substituição da cartilha de alfabetização tradicional. O vocabulário é repetido, simples, fácil, acessível às crianças pequenas e as estruturas sintáticas não oferecem dificuldades. No Brasil, já há experiência bem sucedidas nesse sentido, e a coleção Mico Maneco, de Ana Maria Machado e Claudius, é um caso exemplar de textos que se prestam à fase da alfabetização.

De família afro-caribenha, Trish Cooke nasceu na Inglaterra, onde trabalha como apresentadora de conhecido programa infantil na BBC. É autora de textos para teatro e TV. A ilustradora Helen Oxenbury está entre as mais conceituadas do mundo. Ambas já ganharam diversos prêmios pelo trabalho conjunto em Tanto, tanto!


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por Maria José Nóbrega

A história narra um dia especial na vida de uma família composta por um casal e um bebê. Trata-se de uma festa surpresa para a comemoração do aniversário do pai. Um a um, os parentes vão chegando e dirigem-se ao bebê com uma brincadeira que se encerra com a exclamação de quanto gostariam de apertar, beijar, comer... "essa coisinha tanto, tanto!" Daí o título do livro Tanto, tanto!.

O texto organiza-se em torno da repetição de estruturas que tanto agrada às crianças, retratando a delicadeza de sentimentos que unem os elementos dessa família: todos diferentes, mas podendo expressar o afeto a seu modo.

A ilustração de Helen Oxenbury é um espetáculo a parte. Retrata o cotidiano de uma família negra de classe média, raridade nas páginas dos livros para crianças publicados no Brasil. É importante abrir caminho para as muitas cores de nosso povo. A literatura infantil, quer no trabalho de escritores ou de ilustradores, abre-se como espaço de educação para a diversidade e para a convivência com o diferente.

O projeto gráfico é belíssimo. Começa pelas dimensões (30 cm por 25 cm) que permitem que se possa apreciar a riqueza da ilustração. A disposição em página inteira da ilustração varia em relação ao texto: ora à direita, ora à esquerda; com moldura, sem moldura. Há uma de página dupla que coincide com a revelação da surpresa: a festa de aniversário.

Merece destaque também os detalhes da ilustração em preto e branco ao final das páginas de texto, em geral do bebê, casando perfeitamente com a perspectiva do texto: o homenageado é o pai, mas o centro das atenções é o irresistível bebê.

A elaboração de textos que exploram a repetição estrutural é bastante recorrente na literatura infantil e remonta aos textos de literatura popular, os contos cumulativos ou lenga-lenga. Ainda que o texto seja bom, não está nele o mérito, já que há uma infinidade de textos que exploram esse expediente entre nós. É na ilustração e, principalmente, no que ela pode inaugurar que reside seu mérito.

O trabalho da tradutora Ruth Salles é bastante bom: explora a afetividade da linguagem, procurando construir efeitos através do alongamento das vogais, repetindo a letra correspondente diversas vezes; a sonoridade, através do uso recorrente de onomatopéias e interjeições; e o ritmo com frases que se desdobram num paralelismo sintático, construindo as repetições estruturais.

Por tudo o que foi exposto, o livro merece compor um acervo de uma biblioteca por seu caráter inovador ao retratar o cotidiano de uma família negra com a estética da negritude.


FUNDAÇÃO NACIONAL DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL

www.fnlij.org.br

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Tanto, Tanto!
TRISH COOKE

Naquela família, cada um tem um modo particular de demonstrar seu amor pelo Bebê. História cumulativa, ambientada numa família calorosa e divertida. Considerado altamente recomendável para a criança pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Incluído no Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE-99.
www.submarino.com.br

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Trish Cooke

Trish Cooke nasceu em Bradford, West Yorkshire. Estudou no Leeds Polytechnic e no Ilkley College, onde, em 1980, se licenciou em Artes Performativas.

Depois de ir viver em Londres, Trish começou a escrever para televisão, para o programa infantil da BBC intitulado Playdays, que ela apresentou durante nove anos.

Mais recentemente, ela escreveu guiões para a série Tweenies. Além disso, também escreveu peças e guiões para teatro, para a rádio e para televisão, entre os quais para a série Eastenders.

Em 2001, tornou-se guionista residente da BBC. Actualmente, vive em Bradford com o seu cônjuge e os seus dois filhos.

www.webboom.pt

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Trish Cooke
Titles: Catch!, Hey, Crazy Riddle!
Category: Children
Agent:Caroline Walsh
Film Agent: Gemma Hirst

Trish Cooke has written several books for children including SO MUCH, which won the 1994 Kurt Maschler Award, the Nestle Smarties Book Prize and the 1995 She/WH Smith's Under Fives Book Prize. It was Highly Commended for the 1995 Kate Greenaway Medal and also won awards in France and South Africa.

Trish is also the author of THE DIARY OF A YOUNG WEST INDIAN IMMIGRANT, FULL, FULL, FULL OF LOVE, illustrated by Paul Howard, and CATCH!, illustrated by Ken Wilson-Max. Her most recent book is HEY CRAZY RIDDLE. published by Frances Lincoln.

Trish was a presenter on the BBC's children's television programme PLAYDAYS. She also appeared on YOU AND ME and hosted the radio programme 12345. She has acted in and written plays for theatre, radio and television, both for children and adults. Her children's television scriptwriting credits include THE TWEENIES and MAGS & MO and she has participated in the BBC Children's Drama New Writing Initiative. Trish lives in Bingley, West Yorkshire.


www.davidhigham.co.uk

28 de agosto de 2006

MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA

por: Michelle Lucena

Menina bonita do laço de fita
De: Ana Maria Machado/
Ilustrações: Claudius



Em Menina bonita do laço de fita é possível apreciar tudo da graciosidade da história narrada por Ana Maria Machado e, ao mesmo tempo, divertir-se com as ilustrações de Claudius, as quais são peças essenciais para o entendimento da narrativa.

Esse livro é uma homenagem à raça negra e é de fácil entendimento por crianças de qualquer idade, porque usa uma linguagem familiar e simples. A autora conta a história de um coelho branco que é apaixonado pela cor negra de uma menina e tenta mudar sua cor, usando vários artifícios, sonhando em um dia ter filhos da cor dela. É uma ótima sugestão de livro para usar com as crianças, trabalhando aspectos como o preconceito de cor e a diferença entre as raças e as pessoas.

27 de agosto de 2006

ROGÉRIO ANDRADE BARBOSA - LI

Os gêmeos do tambor
(conto do povo massai)
Ilustrações de Ciça Fittipaldi


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O autor, encantado com a riqueza cultural dos massai – povo que habita uma região entre o Quênia e a Tanzânia – reconta a história de Kume e Kidongoi, os gêmeos do tambor, que sabem tudo sobre o dia-a-dia do seu povo, mas desconhecem o próprio passado. A narrativa verbal é valorizada pelas ilustrações de Ciça Fittipaldi, que se inspira na conhecida beleza e elegância desse povo altivo e na riqueza visual da grande África.

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Ed. DCL, 2006
40 pág., 20,4 x 27,5 cm

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Outros contos africanos para crianças brasileiras
Ilustrações de Maurício Veneza
Prêmio Literatura Infantil Brasileira, A.B.L., 2005


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As fábulas africanas, além de educar para a vida em sociedade, e divertir, servem também para transmitir conhecimentos sobre a exuberante fauna, suas origens e diversidade. As recolhidos neste lançamento explicam as pintas brancas da galinha-de-angola e o focinho curto do porco – tal como os mais antigos contam até hoje.

Editora Paulinas, 2006
24 pág., 18 x 23 cm

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Rômulo e Júlia – os caras-pintadas
Ilustrações de Roberto Weigand
reedição 2006
Altamente Recomendável, FNLIJ, 1993


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Rômulo, filho de um jornalista e exilado político durante a repressão militar nos anos 60, e Júlia, filha de um torturador de presos políticos dessa mesma época, vivem juntos a euforia do movimento dos caras-pintadas que antecedeu a renúncia do presidente Collor. Em 1992, durante cinco meses, vão se conhecendo e descobrindo o passado da família de cada um e a história do Brasil.

Editora FTD, 2006 (edição renovada)
72 pág. pág., 14 x 21 cm

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O tesouro de Olinda
Ilustrações de Rosinha Campos


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Aventura, romance e muita ação, tudo no universo fantástico da cultura popular de Pernambuco, rica em rituais, folguedos, mitos e lendas. Em pleno Carnaval de Olinda, o carioca Thiago e Briggite, uma jovem alemã, procuram um tesouro da época das invasões holandesas, seguindo o mapa de um velho assassinado misteriosamente.

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Editora Melhoramentos, 2005
110 pág., 13,5 x 23,5 cm

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Irmãos Zulus
Ilustrações de Ciça Fittipaldi


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Malandela seguia os irmãos com sua bolsa de orelha de elefante, quando os três entraram num reino muito estranho. Algum feitiço havia transformado todos os habitantes em pedras. O único sobrevivente, um homem bem velho, contou que toda a vida voltaria se eles realizassem três tarefas. Esta narrativa dos zulus - povo que vive ao sul do continente africano, peritos na arte de bordar adornos - leva o leitor ao encontro de uma formiga valiosa, uma grande nuvem de patos e três lindas princesas gêmeas. Com as três tarefas resolvidas pela perseverança de Malandela, o reino volta à vida.

Editora Larouse, 2006
32 pág., 21 x 24 cm

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O senhor dos pássaros
Ilustrações de Salmo Dansa


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Kayondo, menino de uma aldeia de Angola, gosta de ouvir os contadores de histórias - homens mais velhos que transmitem a sabedoria de antigamente. É assim que ele conhece a história do pequeno pássaro katete. Ele encontra na perseverança do pássaro o exemplo para encorajar o pai, internado num hospital, a superar o sofrimento. A história faz parte da tradição oral dos povos bantos, que muito contribuiram para a cultura brasileira, na culinária, nas religiões, nos instrumentos musicais, na capoeira... e também no vocabulário, através de muitas palavras do quimbundo, algumas delas presentes nesta recontagem.

Editora Melhoramentos, 2006
32 pág., 17 x 24 cm

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Nas asas da liberdade
Ilustrações de Rubens Matuck


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Sou de Búfalo, estado de Nova York, fronteira com Canadá pelo rio Niágara. Nasci branca e só adulta soube de uma característica histórica de minha terra: era o ponto principal da ferrovia clandestina que conduzia africanos escravizados à liberdade. (...) Também custei a conhecer - e muitos ainda não conhecem - a existência das comunidades negras das ilhas do litoral do estado da Carolina do Sul, que criaram e preservaram intactas sua própria língua e cultura. (...) A ferrovia clandestina está no conto de Rogério, e essas comunidades negras também (...).
Elisa Larkin Nascimento

Editora Biruta, 2006
32 pág., 20,4 x 26,8 cm

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Três contos da sabedoria popular
Ilustrações de Rui de Oliveira


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Três contos da tradição popular que ilustram a diversidade cultural do nosso povo. Inteligente e astuta, a comadre Raposa mostra que é uma verdadeira "amiga" da onça. Com fama de comilona, a coitada da Paca é passada para trás pelo Coelho espertalhão. E a Cutia, ingênua, foi na onda do Quati e acabou mordendo o próprio rabo. Em plena era do computador, os contos populares continuam cativando as novas gerações de leitores.

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Editora Scipione, 2005
32 pág., 19,5 x 26 cm

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Contos de encantos, seduções e outros quebrantos
Ilustrações de Elvira Vigna


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Uma intrigante aventura pelo mundo das tentações e fascinações da cultura oral que povoam nossas terras e correm em nosso sangue. Homenagem do autor aos velhos mestres, gente de muita sabedoria e "aprendida" nas letras, precursores do estudo de nosso folclore, e aos violeiros, contadores de histórias e rezadeiras que estudaram no livro da natureza.

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Bertrand Brasil,2005
120 pág., 14 x 21 cm

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Lendas e fábulas dos bichos de nossa América
Ilustrações de Graça Lima

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Os contos selecionados pertencem à tradição oral das américas do Sul, Central e do Norte. Os animais causavam respeito e admiração aos nossos ancestrais e assim há uma imensidão de contos, lendas, fábulas e mitos sobre bichos espalhados pelo mundo. Rogério Andrade Barbosa inspirou-se nesses relatos para nos dar estas histórias maravilhosas de bichos e, com a magia das ilustrações de Graça Lima, nos trazer um pouco dos hábitos e costumes dos povos de toda a América.
Altamente Recomendável para Crianças, FNLIJ 2003
Selecionado pela Secretaria de Educação do México, 2003


FONTE:www.docedeletra.com.br

26 de agosto de 2006

POR QUE OS HERÓIS NUNCA SÃO NEGROS?

por Roberta Bencini

http://novaescola.abril.com.br

Nos contos de fadas, o papel de protagonista pertence aos brancos. Veja como fugir desse esteriótipo


Montagem sobre ilustração de A Bela Adormecida, com príncipe e donzela negros: imagem inexistente nas histórias infantis


O povo negro é discriminado em todos os cantos do planeta onde os brancos são maioria. E a sua sala de aula, professor, será território neutro? Por mais que você se preocupe em tratar todos da mesma maneira, os negros continuam sendo discriminados. Quer ver como? Pense nos livros que a turma lê. Eles mostram famílias negras de classe média, felizes e bem-sucedidas? Têm príncipes, reis e rainhas que não sejam brancos? Você não acha isso um problema? Então imagine o que significa ser despertado para o prazer da leitura sem ver sua raça representada de forma positiva nas páginas dos livros.

"Lendas, contos da carochinha e mitologias ajudam as crianças a construir sua identidade. Num processo de transferência, os pequenos se colocam no lugar dos heróis e vivenciam as sensações dos personagens", explica Taicy de Ávila Figueiredo, pedagoga e professora de Educação Infantil em Brasília. Sentimento de inferioridade e auto-rejeição são as conseqüências mais comuns na auto-estima de quem não se reconhece nas histórias contadas na escola. "Todos querem ser aceitos por seu grupo, pela sociedade. Muitos alunos passam a se enxergar como brancos", explica Ana Célia Silva, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Você deve estar se perguntando como fugir dessa questão, já que as histórias consagradas do mundo de faz-de-conta são européias. A sugestão é entrar no universo de lendas e histórias da África, do Oriente, dos índios... Veja como a professora Maria Cecília Pinto Silva, da Escola Municipal de Educação Fundamental General Esperidião Rosas, em São Paulo, conseguiu plantar uma semente contra o racismo em uma atividade interdisciplinar para as turmas da 4a série. O projeto ganhou o prêmio Educar para a Igualdade Racial, do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).


PLURALIDADE CULTURAL

Tema: Preconceito racial

Objetivo: Mostrar que existe um racismo velado no Brasil e que a imagem dos negros nos livros ainda é inferiorizada perante o branco. Aumentar a auto-estima dos alunos afro-descendentes, despertar a turma para a diversidade da raça humana e promover o respeito pelas diversas etnias

Como chegar lá: Faça um levantamento dos heróis e heroínas conhecidos pelo grupo. Provavelmente os de cor branca serão maioria. Em seguida apresente personagens negras de livros e filmes (como o desenho animado Kiriku e a Feiticeira, disponível em fita VHS) e pessoas notórias que sejam representadas de maneira positiva. Discuta os motivos dessa diferença, peça pesquisas em jornais e revistas que comprovem a discriminação

Dica: Não chegue com discurso pronto sobre o racismo. Deixe os alunos concluírem que o preconceito e a discriminação existem, sim, no Brasil e que precisam ser combatidos. Ao falar da cultura africana e dos rituais, prepare-se para enfrentar o preconceito religioso.

EXPERIÊNCIA PRÁTICA

Diagnóstico/Objetivos — Após presenciar diversas atitudes racistas, a professora elaborou um projeto para despertar o respeito às diferenças. Pediu à classe que desenhasse os heróis preferidos, já prevendo o resultado. A maioria citou personagens brancas. Ela aproveitou os dados e ensinou, nas aulas de Matemática, como elaborar gráficos. Veja o resultado: 94% de personagens brancas, 4% de orientais e 2% de negras.

Problematização — Maria Cecília apresentou o herói Kiriku, do filme Kiriku e a Feiticeira. O desenho animado se passa na África e todas as personagens são negras. A turma assistiu ao filme, reescreveu a história e a sinopse e fez resenhas. Em seguida a professora pediu um exercício de comparação com os contos de fadas tradicionais e o levantamento das características desse gênero literário. Para começar, lançou a pergunta: por que não vemos personagens negras em outras histórias? Os alunos conseguiram se lembrar de algumas, como o Negrinho do Pastoreio, o Zumbi e Tia Nastácia. Qual a diferença entre eles e Kiriku? "Ele é um herói, professora", responderam. Bingo! A próxima atividade foi de leitura de livros cujas personagens principais são negras, como Luana, de Aroldo Macedo. Em seguida as crianças pesquisaram em jornais e revistas reportagens sobre racismo, enquanto Maria Cecília mostrava fotos e histórias de grandes ícones brasileiros negros, como o professor Milton Santos.

Desdobramentos — Em Ciências, foram estudadas diversas versões para a criação do mundo e a professora apresentou lendas africanas e indígenas. Nesse momento, um aluno muçulmano trouxe sua experiência e enriqueceu a discussão sobre pluralidade cultural (leia mais no quadro abaixo).


TOLERÂNCIA RELIGIOSA CONTEMPLA O PROJETO

"Não quero desenhar nem ouvir falar em orixás", reclamaram alguns evangélicos na aula de Ciências de Maria Cecília. O preconceito religioso é outro desafio a ser enfrentado na escola. Algumas crianças não queriam participar dessa etapa do projeto. Durante essa difícil tarefa, o aluno Kaled Abidu El Carim Abou Nassif, libanês e muçulmano, pediu espaço para contar a versão da religião de Maomé para a criaçãodo mundo. Como a cultura islâmica está em evidência, os colegas estavam cheios de perguntas. Depois dos orixás, anjos e Alá, os alunos conheceram histórias de Tupã e tiveram contato com as lendas indígenas. "Estão vendo? Não somos e não precisamos ser todos iguais", disse a professora, explicando que conhecer é muito diferente de convencer".

ENTREVISTA

Andréia Lisboa de Sousa é pesquisadora das relações raciais na literatura infanto-juvenil na Universidade de São Paulo (USP). Negra, ela fala com conhecimento de causa sobre a existência de racismo no Brasil.

NE: É possível destruir o preconceito na escola?

Andréia: É uma tarefa difícil, mas que deve ser cumprida pela escola. Desde a Educação Infantil, os professores devem estar atentos nas diferenças na sala de aula. Não é mais possível que se apresente uma leitura etnocêntrica do mundo. Antes disso, porém, o professor precisa destruir seu próprio preconceito.

NE: A senhora está afirmando que seus colegas são preconceituosos?

Andréia: Sim, é preciso não ter preconceito do preconceito, já dizia o sociólogo Florestan Fernandes. A partir do momento em que admitimos nossas fraquezas fica mais fácil encararmos o problema e encontrarmos uma solução, um projeto pedagógico eficiente.

"A personagem branca nunca é identificada pela cor. A preta, sim"

NE: Como executar um bom projeto?

Andréia: Escolha bem os livros didáticos e paradidáticos para que os alunos tenham acesso à Cinderela, personagem da tradição européia, mas também à Luana, heroína negra criada pelo escritor Aroldo Macedo, por exemplo. E a outras indígenas, japonesas e judias. Não basta que um livro contenha personagens negras. É preciso atenção nas imagens. Não podemos admitir figuras com traços grosseiros. Encontrei um livro em que as personagens negras pareciam porcos. Veja se não há imagens que colaboram com a representação de inferioridade, como negros sendo maltratados, mesmo que a temática do livro seja a escravidão. Evite personagens que sejam vítimas ou que ocupem posições subalternas. Mostre uma imagem positiva da raça para que os alunos sintam orgulho de si mesmos.

NE: O professor pode chamar um aluno de preto?

Andréia: Pode, mas depende da intencionalidade. Veja a diferença nessas duas afirmações: "Que preto lindo!" e "Só podia ser esse preto bagunceiro!" Para que não haja confusão, eu gosto de usar negro, mas há outras nominações, como afro-brasileiro e afro-descendente.


QUER SABER MAIS:

EMEF Mal. Espiridião Rosas, Av. Gal. McArthur, 1304, CEP 05338-001, São Paulo, SP, tel. (0_ _11) 3768-2898

Andréia Lisboa de Sousa, tel. (0 _ _11) 9880-1521, e-mail: sousalis@usp.br

Filmografia
Kiriku e a Feiticeira, Imovision Distribuidora (disponível apenas em locadoras)

Bibliografia
Superando o Racismo na Escola, Kabengele Munanga (organizador), 202 págs., MEC (disponível apenas em bibliotecas)

Luana, A Menina que Viu o Brasil Neném, Aroldo Macedo, 48 págs., FTD, tel. (0_ _11) 3611-3055, 9,70 reais

O Amigo do Rei, Ruth Rocha, 32 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115152, 10,90 reais

Tanto, Tanto!, Trish Cooke, 48 págs., Ed. Ática, 24,90 reais

25 de agosto de 2006

Pesquisa analisa personagens negras na literatura infanto-juvenil brasileira

Coordecom

07 de março de 2006 - 13:48
Elaine Tortorelli

Uma pesquisa aborda as personagens negras na literatura Infanto-juvenil. De autoria do professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, Unemat, Luiz Fernando França a dissertação é parte do trabalho para conclusão do mestrado em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso(UFMT).

Com o tema Personagens Negras na Literatura Infanto e Juvenil brasileira: da manutenção à desconstrução de estereótipos, o trabalho teve como objetivo analisar a representação da personagem negra na literatura infantil e juvenil considerando a trajetória histórico-literário do gênero no Brasil .

Para realizar a analise o autor apoio-se em textos de várias épocas. O inicio se deu com a gênese da literatura infantil e juvenil com os poemas de Olavo Bilac A borboleta negra,Os reis magos e Mãe Maria, uma vida entre outros. Nas demais décadas a partir de 20 até a de 50 o pesquisador utilizou vários autores como Monteiro Lobato em Reinações de Narizinho; Érico Veríssimo com as Aventuras do avião vermelho; Maria José Dupré com os livros A motanha mágica e A ilha perdida e Cazuza de autoria de Viriato Corrêa.

No período contemporâneo, Luiz Fernando escolheu as obras O menino Marron, de Ziraldo,; A cor da ternura de autoria de Geni Guimarães; além de produções de Oswaldo Faustino, Aroldo Macedo, Rogério Andrade Barbosa e Ana Maria Machado.

No estudo o pesquisador pode verificar que nas obras da primeira metade século XX existia uma conservação do estereótipo do negro . O que nas produções contemporânea é modificada. Isso se dá de acordo com a pesquisa pela influencia da negritude e do próprio movimento negro. Essa obras utilizam outras formas de representação como a inserção de traços e símbolos da cultura afro-brasileira ,aspectos mecanismos de resistência para enfrentar os preconceitos e a realidade social, a valorização da identidade afro e das diferenças culturais.

Para o autor, nesse sentido a presença do negro na literatura infantil e Juvenil brasileira participa de um processo que vai da manutenção a desconstrução de estereótipos negativo.

Luiz Fernado é professor do Departamento de Letras da Unemat , instituição onde concluiu sua graduação.

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Segunda-feira, 07 de maio de 2007

CIRANDA
Central de Notícias dos Direitos da Infância e da Adolescência
EDIÇÃO NÚMERO: 68


Freud, as crianças e as histórias infantis: o valor da verdade - 28/04/2006

* Seminário mostra que literatura infantil pode ser utilizada como ferramenta de educação e cultura *Diante da evolução dos contos, alguns especialistas entram em divergência sobre a situação e a atuação dessas histórias. Freud explica?


Como todo ser humano, uma criança procura entender o mundo ao seu redor e se relacionar. Ela deseja, necessita, sofre e percebe. Apesar de contar com um menor número de recursos verbais, o menino ou menina pode utilizar outras técnicas para se desenvolver. Entre elas, os contos infantis. Esses deram à criança o direito de escutar e ser ensinada. O direito de aprender sobre o bem e o mal. O certo e o errado. Mas e hoje? Qual a situação dos contos infantis? Cumprem eles suas funções diante do público-alvo?
Aproveitando o marco dos 150 anos do nascimento do autor da psicanálise, Sigmund Freud, a Sociedade Paranaense de Pediatria realiza na próxima quinta-feira, 04/05, o seminário Freud, as crianças e as histórias infantis: o valor da verdade. Com palestras e debates, os psicanalistas pretendem avaliar e significar as maneiras como a criança absorve e reproduz valores. O público alvo são educadores, psicanalistas, pais, mães, além de todos aqueles que se interessem pelas temáticas relacionadas às crianças.

A literatura infantil ontem, hoje e amanhãHistoriadores contavam as histórias para os adultos e não para as crianças. A partir dos contos infantis, os pequenos ganharam uma oportunidade de aprendizado, educação e transmissão de valores. A criança adapta a história a sua realidade, cada uma com suas interpretações e conclusões próprias. O lobo mal é um exemplo, a bruxa também.
Porém, com a mudança dos contextos de vida, mudaram-se os contos, o que causa divergências entre especialistas. De um lado, alguns afirmam que muitas das novas histórias, mesmo as adaptadas de velhos contos, deturpam valores do bem e do mal e confundem as crianças. De outro, existe a indagação de que esses valores ainda existem, no entanto, não são os mesmos dos tempos anteriores.

Conto de fadas - Fenômeno cultural e literário. Tem o objetivo de formar leitores, fazendo da diversidade cultural um fato. Também tem a função de valorizar as etnias, encantar e sensibilizar o ouvinte, estimular o imaginário, articular o sensível, alimentar o espírito.

Pelo conto à moda antiga
Nos contos antigos eram claros os papéis do mocinho e do vilão, enquanto hoje, o mocinho pode, de uma hora para outra, se transformar em vilão e vice-versa. O que está acontecendo? De acordo com especialistas, um dos problemas é que, nas histórias atuais, mesmo nas adaptações, o objetivo e a finalidade não são claros para as crianças. Ao invés de solucionar, estes contos confundem. A própria adaptação às vezes faz com que o conto perca a sua função, não trazendo uma busca de soluções coletivas e formando crianças que agem em torno de interesses próprios.

Novos problemas. Novos contosPara os especialistas, a vontade de a criança ouvir mais de uma vez uma história está refletida no tanto que tal conto se assemelha com seu contexto de vida. Percebe-se, atualmente, uma velocidade muito grande de informações na sociedade. Uma velocidade muito maior que em outros tempos. Por conseqüência, houve, de certa forma, diluição da moral, troca de valores e aparecimento de novos problemas e medos.

Realidade e ficção
Parece óbvio, mas não é. Sem ter o que aprender, muitas crianças se desinteressam pelas antigas histórias. E foi descobrindo os problemas, interesses e dificuldades dessa nova geração de leitores infantis que Joanne Kathleen Rowling, autora da série Harry Potter, entrou para a lista dos autores mais vendidos no mundo. Hoje, os problemas a serem enfrentados pelas crianças são o envolvimento com as drogas, a dificuldade de representatividade social, o abuso por parte de terceiros, e, em especial, a solidão. Este é o caso de Harry Potter, um garoto que perdeu os pais em uma batalha na qual eles tentavam salvar a sua vida. Harry vive sozinho e tem diversos desafios a vencer, em uma mescla de fatos que misturam a vida cotidiana com a ficção. Alguma semelhança com a infância e a juventude atuais seria mera coincidência?

Sigmund Freud
Muitas teorias enxergam a criança de forma diferenciada graças a Sigmund Freud. Austríaco, ele nasceu em seis de maio de 1856 e morreu em 23 de setembro de 1939. Entre suas diversas teorias, destaca-se a criação da psicanálise. Seus conceitos de inconsciente, desejos inconscientes e repressão também foram revolucionários.

O que diz o ECA
Art. 58 – No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura.

24 de agosto de 2006

AFRO-LITERATURA BRASILEIRA

O que é? Para quê? Como trabalhar?

por Ana Lúcia Silva Souza, Andréia Lisboa Sousa e Rosane de Almeida Pires*
(08/03/2005)

Escrevemos este texto em março, quando se comemora o Dia Internacional das Mulheres. Dedicamos a todas elas, em especial às nossas mães, sábias, contadoras de histórias, leitoras do mundo.

A leitura da literatura infanto-juvenil pode contribuir com a promoção da igualdade étnico-racial em ambientes educativos. Esta é uma das bandeiras há muito levantadas por ativistas do movimento negro, educadores (as) e pesquisadores (as) envolvidos (as) com o assunto. Atualmente a discussão ganha densidade mediante a aprovação da Lei 10639/2003 e do Parecer CNE/CP 003/2004, documentos que instituem a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos de Educação Básica.

Tomar a promoção da igualdade étnico-racial como política pública, aos poucos ainda tímida e insuficientemente, tem tido importantes repercussões pedagógicas e vem influenciando vários segmentos, entre eles o mercado editorial. Nesse contexto social, a produção de literatura infanto-juvenil busca firmar-se com novas posturas e temáticas em relação às questões raciais.

O que há de novo e de bom no mercado editorial? Como saber? Como escolher livros? Com promover a leitura de livros de literatura com temática afro-brasileira em sala de aula, que aqui estamos chamando de afro-literatura? Este é um conjunto de questionamentos que devem estar presentes nos cursos de formação de professores, em todas as modalidades, instigando o redesenho de princípios e práticas para lidar com assuntos antes silenciados ou tratados de maneira danosa ou perversa.

Adiantamos que a tarefa em torno da leitura destes livros é dupla e concomitante: reconhecer e denunciar abordagens, textos e imagens que possam de alguma maneira desfavorecer a construção positiva da identidade da população negra e também identificar materiais, livros adequados, fomentando boas práticas de leitura, capazes de questionar e desconstruir mecanismos e práticas racistas e discriminatórias. Trata-se de construir e promover espaços voltados à eqüidade social e étnico-racial.

Nesse sentido, este artigo, reconhecendo que ainda há muito por fazer, indica alguns caminhos para a leitura, seleção e movimentação do acervo de afro-literatura e leitura em sala de aula.

Leitura, literatura e sociedade

Em uma sociedade como a nossa, na qual o acesso à cultura letrada é ao mesmo tempo valorizado e tão restrito à grande parte da população, a disseminação e o incentivo à leitura e escrita e ao uso da oralidade torna-se fundamental para a busca do exercício da cidadania, considerando-se o direito às diferenças.

Ressalta-se que a leitura deve ser entendida como prática social, ação múltipla realizada com diferentes objetivos, em diversos contextos e por meio de vários recursos que se entrecruzam incessantemente.

Pensar as práticas sociais de leitura como fonte e canal de informação e formação requer considerar a necessidade de articular o uso de diferentes tipos dos textos com temáticas em torno de aspectos comuns à vida dos educandos e educandas. Além disso este conhecimento precisa estabelecer relações entre esse aprendizado na sala de aula e o cotidiano, desafiando a pensá-lo como parte do processo educativo que acontece durante toda a vida do leitor.

Leitor é aquele que percebe a leitura, a escrita, a oralidade, a imagem e os gestos para entender o seu tempo, apreendendo, problematizando informações, intenções e propondo atitudes.

E o texto literário?

Afro-literatura - outros olhares sobre o texto literário

Texto literário é todo aquele que nos modifica, nos faz sair da cômoda posição de leitor para a de sujeito-leitor — que tem o direito de intervir no texto, caminhar por ele, invadi-lo. É aquela produção textual que nos instiga e arrebata, trazendo consigo a beleza inquietante de nos permitir criar, recriar e tecer outras significações a partir de sua tessitura.

A produção literária afro-brasileira possibilita aos seus leitores todos esses movimentos, além de provocar a necessária reflexão sobre as relações étnico-raciais na sociedade brasileira.

A afro-literatura brasileira poderia ser entendida/percebida, ainda, como aquela produção que:

* possui uma enunciação coletiva, ou seja, o eu que fala no texto traduz buscas de toda uma coletividade negra;

* propõe (e se propõe como) uma releitura da história de nosso país;

* traduz uma ressignificação da memória do povo negro brasileiro;

* realiza fissuras nos textos que representam o discurso hegemônico da nacionalidade brasileira;

* se caracteriza por um processo de reterritorização da linguagem, ocupando lugares e desmontando estereótipos;

* se configura como narrativa quilombola, porque realiza verdadeiras manobras de resistência: é pouco disseminada e sofre boicote de editores e distribuidores; no entanto, sua produção é constante e bem extensa.

* trabalho com esse novo padrão estético-étnico-racial e cultural pode ocorrer de modo paulatino, porém mostra-se eficaz.

Para a promoção desta leitura, deve-se construir o ambiente de leitura com todos os pormenores e cuidados que a atividade exige: dialogar com o texto, mesmo antes de abri-lo, criar “aquele” clima antes e ao apresentar o texto escolhido para a leitura; acrescentar informações pertinentes ao tema do livro escolhido por meio de vídeos, passeios, presença de artistas, autores, ilustradores e outras pessoas ligadas ao contexto de produção da obra a ser lida; promover roda de conversa acerca do título, especulando sobre seu conteúdo; apresentar as ilustrações; estabelecer alianças com professores (as) de outras disciplinas para um trabalho coletivo e interdisciplinar.

Há que se pensar na necessidade de cultivar olhares sensíveis para selecionar livros que abordem a cultura afro-brasileira. Nesse caso, há uma outra reflexão a se fazer: quais livros selecionar? É fato que, em geral, os livros mais divulgados, conhecidos e lidos são os que apresentam, ainda, maior nível de estereotipia, racionalização e propostas utilitárias que cumprem o papel de veicular ensinamentos, a fim de determinar o comporta-mento do leitor, reafirmando e/ou legitimando os preconceitos, as discriminações e as imagens caricaturizadas da população negra.

Para que o livro seja uma obra de referência, como a defendida neste artigo, não basta trazer personagens negras e abordagens sobre os preconceitos. É importante levar em consideração o modo como são trabalhados o texto e a ilustração.

A afro-literatura brasileira necessita ser lida pelo viés da contramão, ou seja, desvencilhando de olhares etnocêntricos, buscando nos sentidos possíveis da linguagem apresentada no texto, a beleza da oralidade escrita e do fazer lingüístico característico das temáticas e dos escritores de afro-literatura.

Quantas vezes já paramos para realizar um quadro comparativo entre a representação de personagens brancas e negras que aparecem nos livros ou então identificar preconceitos e estereótipos presentes nas obras?

Para construção/constituição de acervo que contemple a diversidade étnico-racial, os professores e demais profissionais envolvidos nessa escolha necessitam estar atentos aos materiais:

* que apresentem ilustrações positivas de personagens negras;

* cujos conteúdos remetam ao universo cultural africano e afro-brasileiro;

* que possibilitem aos leitores o acesso a obras onde habitem reis e rainhas negras, deuses africanos, bem como os mitos afro-brasileiros;

* cujas tessituras realizadas durante a leitura possam construir a elevação do aumento da auto-estima das crianças negras;

* que representem, sem estereótipos, a população negra brasileira;

Os profissionais envolvidos na escolha desse acervo devem também analisar a contribuição das obras estrangeiras em que aparecem essas personagens. Muitas obras, praticamente desconhecidas, rompem com a tradição da representação estereotipada das narrativas e ilustrações em relação à população negra.

Mais que livros na mão: compromisso com a valorização da diversidade

As políticas públicas parecem pretender avançar neste campo da leitura e da literatura por meio da distribuição de livros. Cabe intensificar ações mais comprometidas com o enfrentamento do desafio que é trazer para a sala de aula o universo cultural africano e afro-brasileiro.

Contudo, sabe-se que somente a distribuição de livros não garante a leitura, nem mesmo o acesso a eles. Para que o livro circule na sala de aula, e fora dela, depende também, e em grande parte, do grau de organização da unidade escolar - biblioteca funcionando, orienta-dores informados e responsáveis por ela, divulgação do acervo e dos temas dos livros, propostas interessantes a todos os envolvidos.

A formação de leitores compromissados com a valorização da diversidade, imprescinde da existência de professores, leitores, investigadores que sempre se perguntem uns aos outros: quais são as políticas públicas em curso? quais são os bons livros? quais são as editoras que têm contemplado positivamente a diversidade não apenas em relação a obras com personagens negras mas também em relação aos escritores, ilustradores e outros profissionais envolvidos na produção? como está a distribuição e circulação destes livros?

Finalizando, independente de seu pertencimento étnico-racial, todos e todas merecem ter acesso a obras literárias comprometidas com a promoção da igualdade das relações étnico-racial.


Referências
SOUSA, Andréia L. Nas tramas das imagens: um olhar sobre o imaginário da personagem negra na literatura infantil e juvenil. São Paulo, 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.

________. “O Exercício do Olhar: Etnocentrismo na Literatura Infanto-Juvenil”. In: SILVEIRA PORTO, Maria do Rosário et al. Negro, Educação e Multiculturalismo. São Paulo: Ed. Panorama, 2002.

________. Personagens Negros na Literatura Infantil e Juvenil. In: CAVALLEIRO (org.). Racismo e Anti-Racismo na Educação: repensando nossa escola. São Paulo: Summus, 2001.

SOUZA, A L. S. Negritude, Letramento e Uso Social da Oralidade. In: CAVALLEIRO, E. (org.). Racismo e Anti-Racismo na Educação: repensando nossa escola. São Paulo: Summus, 2001.

________ . Igualdade nas relações raciais - as leis fora do papel. Bolando Aula de História - Apoio para professores do Ensino Fundamental. Ano 7. n. 47 novembro de 2004. Gruhbas, São Paulo, 2004.

AUTORAS

Ana Lúcia Silva Souza é Doutoranda em Lingüística Aplicada - Unicamp/IEL. Integra a Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros - ABPN - SP. Estuda as interfaces entre práticas de letramento, relações raciais e juventude. Organiza e assessora projetos relacionados leitura e dinamização de acervos. Assessora de Projetos da ONG Ação Educativa, Assessoria, Pesquisa e Informação. (analusilvasouza@uol.com.br)

Andréia Lisboa de Sousa é Fellow do Fundo Ryoichi Sasakawa, doutoranda pela Faculdade de Educação da USP, pesquisadora do Centro de Estudos do Imaginário, Cultura, análise de Grupos e Educação – CICE/FEUSP e Sub-Coordenadora de Políticas Educacionais da Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão Educacional/SECAD/MEC. (souzaliz@yahoo.com.br)

Rosane de Almeida Pires é Mestre em Teoria da Literatura pela Faculdade de Letras da UFMG, professora da Educação de Jovens e adultos da Prefeitura de Belo Horizonte; compõe o Grupo de Educadoras Negras da Fundação Centro de Referência da Cultura Negra em Belo Horizonte FCRCN); sócia-proprietária da Sobá -livraria especializada em livros étnicos e cd´s alternativos. (rosane.pires@uol.com.br)

23 de agosto de 2006

ANDRÉA LISBOA DE SOUZA - ENTREVISTA

do www.portalafro.com.br
por Jader Nicolau Jr. (fotos e reportagem)e
Milton C. Nicolau (edição)

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A educadora Andréa Lisboa de Souza cursa o mestrado em Educação na Universidade de São Paulo (USP) e é orientadora educacional do Instituto do Negro Padre Batista, em São Paulo. Atualmente, desenvolve uma pesquisa que pretende mapear o imaginário do negro na literatura infanto-juvenil brasileira. Nesta entrevista, concedida durante o seminário "Perspectivas Educacionais para o Negro Brasileiro no Terceiro Milênio", na Estação Ciência, em São Paulo, a professora falou sobre seu trabalho e da ausência de personagens e heróis negros na literatura.

Portal Afro - Como surgiu seu interesse em estudar a presença do negro na literatura infanto-juvenil?

Andréa de Souza - Meu interesse em trabalhar essa questão surgiu a partir de uma necessidade, desde a época em que eu estudava para o Magistério. Tínhamos uma disciplina chamada Literatura Infantil e Juvenil e, durante o curso, em nenhum momento, os professores apresentaram um livro em que houvesse personagens negros. Desde então, comecei a ficar preocupada com essa não representatividade. Quando fui cursar Letras na PUC [Pontifícia Universidade Católica, em São Paulo], me deparei com o mesmo problema: o negro pouco aparecia na literatura. Nas poucas vezes em que era identificado, tinha a imagem sempre estereotipada. Assim, resolvi que iria estudar o imaginário "do" e "sobre" o negro na literatura infanto-juvenil.

Portal Afro - Qual é o objetivo desse trabalho?

Andréa de Souza - Minha intenção não é apenas elaborar uma pesquisa confirmando que a literatura mantém os mesmos estereótipos que o movimento negro vem denunciando há anos, e sim procurar analisar onde está a raiz desse preconceito.

Portal Afro - Como você efetua essa análise?

Andréa de Souza - Para pautar meu trabalho, parti da Antropologia do Imaginário, que tem Gilbert Durand [filósofo francês que fundou em 1966 o Centro de Estudos do imaginário] como um de seus representantes. Ele baseou seus estudos no Paradigma da Complexidade, em contribuições da psicanálise, principalmente a jungiana [relativo ao psicólogo alemão Karl Gustav Jung], na Antropologia Simbólica e na Hermenêutica. Esses novos temas, que na verdade nem são não tão novos assim, vão fazer com que tenhamos uma outra leitura das relações raciais, não somente pelo lado econômico, sociológico e histórico da exclusão do negro, mas também, por outro lado, que tenhamos uma explicação simbólica disso. Sabemos que a partir dessas discussões, o negro, por ter a pele escura, está sempre associado a tudo que é ruim e negativo. Diante disso, as pessoas farão uma associação à figura do negro, projetando nele, de certa forma, todos os seus medos e sentimentos negativos. Minha intenção é discutir essa projeção do negro no imaginário.

Portal Afro - Então o negro também assimila esse preconceito?

Andréa de Souza - O Professor Kabengele Munanga, em uma de suas aulas, disse que o preconceito também estava na matriz de nosso inconsciente, e que precisávamos buscar novas formas para trabalhar isso, desenvolver outros olhares.

Portal Afro - E para onde seriam desviados esses olhares?

Andréa de Souza - Não podemos ficar restritos apenas na denúncia de que a imagem do negro é estereotipada, que ainda temos, por exemplo, a mulher negra personificada na literatura como Tia Anastácia, mas mostrar, também, o quanto, inconscientemente, os professores e os leitores dessas obras, irão acentuar esse preconceito dentro deles. Perceba que, no plano da objetividade, podemos comprovar por "a + b" que, historicamente e sociologicamente, o negro foi excluído. Mas e no plano da afetividade? Como trabalhar esse sentimento?

Portal Afro - Qual o caminho a seguir?

Andréa de Souza - Quando falamos nos paradigmas da complexidade, representados aqui pelo pensamento de Edgard Morrant, procuramos uma explicação além das questões econômicas e sociológicas para mostrar onde estaria a matriz desse preconceito. Para entender essa matriz, comecei a estudar Gilbert Durand, que elaborou um conceito chamado Trajeto Antropológico.

Portal Afro - Do que ele fala?

Andréa de Souza - Fala sobre a troca que ocorre no ser humano e na sociedade entre as intimações objetivas, ou seja, as intimações sociais e as funções subjetivas. Existe a troca, e não a hierarquia de valores (onde uma coisa vem primeiro e outra depois). A partir dessa troca, ele desenvolveu um trabalho que chama de "As Estruturas Antropológicas do Imaginário", onde temos dois regimes: o diurno e o noturno, e que dentro deles temos três estruturas. A partir daí, ele vai mostrar que "além" há uma troca, e como se dá a projeção nas questões sociais dos sentimentos afetivos.

Portal Afro - Como é estudar a questão racial a partir desse ponto de vista?

Andréa de Souza - Sempre temos que voltar as vistas para uma questão que o movimento negro discute muito: quando o negro ascende e ingressa na classe média ou média alta, ele é discriminado. Conclui-se então que a questão não é apenas social, pois mesmo quando ele tem dinheiro, continua sendo discriminado. Então, naturalmente retornamos à questão raça. E para isso, precisamos ampliar nossa visão de etnocentrismo.

Portal Afro - E qual a conclusão?

Andréa de Souza - É que, além dessa visão de uma sociedade eurocêntrica, de um pensamento que parte da visão ocidental, temos também que considerar que essa construção etnocêntrica vem do sentimento de medo do diferente, ao que não é conhecido. Se, num primeiro momento, tenho medo do que é diferente, isso será transformado em inferioridade, em desigualdade, em exclusão.

Portal Afro - Como você aplica esse conhecimento em seu trabalho como orientadora educacional do Instituo Padre Batista?

Andréa de Souza - Procurei criar uma oficina que, antes de trabalhar diretamente com a imagem do negro na literatura, sensibilizasse os educadores quanto a essa questão.

Portal Afro - Como você faz isso?

Andréa de Souza - Em primeiro lugar, voltamos ao histórico de leitura desses educadores e levantamos alguns dados. É importante sabermos o que ele leu, quais os personagens que marcaram esses anos e os heróis que ficaram em sua mente. Assim, eles mesmos reconhecerão que dentre esses personagens e heróis que marcaram sua infância, dificilmente serão encontrados negros, com exceção de Zumbi dos Palmares, que é sempre o mais lembrado.

Portal Afro - Qual a importância dessa reflexão?

Andréa de Souza - Pretendemos sensibilizar os educadores, principalmente os brancos, para que percebam como foi importante poderem contar com o referencial desses heróis brancos na infância. Por outro lado, mostrar que se estes mesmos educadores não se preocuparem em trabalhar a imagem de personagens e heróis negros para seus alunos, tanto brancos quanto negros, para que essa imagem seja incorporada ao imaginário dessas crianças, de forma natural, fazendo com que entendam que o negro também é um ser humano como os outros, se esses mestres não incorporarem essa prática educacional, dificilmente conseguiremos mudar alguns problemas decorrentes de nossa situação enquanto negros.

Portal Afro - Quais problemas?

Andréa de Souza - A baixa auto-estima e o fato dos negros perseguirem o padrão branco de beleza, por exemplo.

Portal Afro - E como é aplicado esse método?

Andréa de Souza - Num primeiro momento, trabalhamos com músicas relacionadas com a cultura negra, depois passamos para poesias, como as dos Cadernos Negros, publicadas pelo Quilombhoje. Assim, organizamos dinâmicas onde reconstruímos e montamos poesias, discutindo o resultado final daquele texto, pois eles não tem o texto original em mãos, eles irão montá-lo. A partir daí vamos discutir como organizar esse texto, sobre o que ele fala e qual a visão do negro por ele apresentada. Fazemos toda uma exposição sobre isso. Num outro momento, eu apresento um trecho, pois nunca é possível mostrar toda a fita, daquele documentário chamado "Olhos Azuis".

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Portal Afro - Qual a contribuição desse filme?

Andréa de Souza - Ele serve justamente para mostrar como é que se constrói a discriminação, como é que o professor, estando numa posição de poder, pode manter, criar ou ainda, de certa forma, discrimnar alguém. Esse vídeo é excelente para sensibilizar esses educadores.

Portal Afro - E qual a reação deles?

Andréa de Souza - Alguns se sentem agredidos. Consideram o vídeo muito agressivo...

Portal Afro - E depois da discussão sobre o vídeo...

Andréa de Souza - Começamos a trabalhar alguns conceitos básicos, como o etnocentrismo, o preconceito e a discriminação, para que eles mesmos percebam se têm ou não essa prática etnocêntrica na sala de aula.

Portal Afro - E qual é a conclusão mais comum?

Andréa de Souza - Geralmente eles percebem que têm. Muitos me falam que não sabem como fazer isso de forma diferente. Estamos buscando caminhos.

Portal Afro - Você tem notícia de experiências realizadas nesse sentido?

Andréa de Souza - Acredito que o meio acadêmico e intelectual não dá a devida atenção a algumas experiências. Na Bahia, por exemplo, uma escola desenvolveu todo um programa baseado na cultura afro-brasileira, também tenho conhecimento de uma boa experiência em Florianípolis [capital do estado de Santa Catarina, no Sul]. São iniciativas desenvolvidas há um bom tempo e que tem gerado bons resultado, mas por não estarem localizadas nos grandes centros, não são divulgadas de forma adequada. Isto nos dá a falsa impressão de que nada tem sido feito, pois, na maioria das vezes, e infelizmente tenho que dizer isso, os representantes acadêmicos da educação não estão buscando essas novas experiências, seja para divulgá-las ou para usá-las como refererência.

22 de agosto de 2006

LITERATURA - ANTOLOGIAS AFRO-BRASILEIRAS: MEMÓRIA E RESISTÊNCIA ESTÉTICA

A produção literária afro-brasileira afirma sua identidade negra com estética e temática próprias.

Marcus Vinicius Bonfim

Seguindo o caminho da criação literária negra no Brasil, Cadernos Negros chega ao trigésimo ano com a publicação de sua 30ª edição. A publicação é fruto dos esforços de militantes negros, poetas, engajados na produção de uma antologia literária, de forma cooperativa em todas as etapas de elaboração e seleção dos conteúdos e, sobretudo, arcando com os custos de impressão.

No percurso literário brasileiro, vários foram os autores negros que, a despeito dos preconceitos e esforços de "branqueamento" alcançaram a consagração e hoje são estudados em todos os bancos de colégios brasileiros e em várias universidades de todo o mundo

Desde 1859, a militância negra no Brasil marca presença na literatura.
Escrito pelo advogado abolicionista, poeta e jornalista afro-brasileiro
Luiz Gama (1830-1925), o poema A bodarrada é o primeiro registro literário conhecido que assume a identidade negra, que ironiza e se impõe frente à sociedade da época. O autor, que chegou a ser vendido como escravo, anos mais tarde, notabilizou- se pela ampla defesa dos direitos dos cidadãos negros ainda ilegalmente escravizados.

O principal simbolista brasileiro, Cruz e Sousa (1861-1896), durante muito
tempo, foi considerado um negro que havia negado suas origens, dada a
sofisticação da escola literária que ajudou a implementar no Brasil. Tal
visão explica-se pelo objetivo não declarado de escamotear o aspecto
visceralmente negro de sua obra, que atinge o ápice com o poema em prosa Emparedado, publicado no livro Evocações. Cruz e Souza enfrentou os preconceitos raciais da época e traduziu, em poesia e prosa, sua luta e sofrimento no embate contra a opressão que o vitimou, levando-o a uma vida difícil, encerrada muito cedo.

Passam-se anos, e chegamos a Machado de Assis (1839-1908), que a historiografia nacional há anos tenta "clarear". Suas obras-primas Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro apresentam um realismo à brasileira e uma crítica social profunda, porém sutil. O fundador da Academia Brasileira de Letras não se expôs tanto à militância pela abolição da escravatura. Mas não faltam, na sua obra, registros e reflexões a respeito do assunto.

Lima Barreto (1881-1922) foi mais a fundo na denúncia das injustiças
sociais e do racismo, e tal postura afirmativa custou-lhe caro. Sua obra foi
rejeitada pela crítica da época, tendo o devido reconhecimento ocorrido
somente após sua morte. Carioca, jornalista, Lima Barreto destaca-se com
obras como Recordações do Escrivão Isaías Caminha, O triste fim de
Policarpo Quaresma
e Clara dos Anjos. Faleceu jovem, aos 46 anos, mas, com seus escritos, enfrentou o racismo de frente e contribuiu para uma prosa literária despojada que o Modernismo aproveitou para implementar em seu propósito iconoclasta.

Do encontro das escolas européias com as culturas e vivências africanas no
Brasil, emerge um novo olhar literário fortemente marcado pelo sofrimento
advindo da escravidão e do racismo, como também pelo sentido épico da luta quilombola. Os escritores citados, para fugir da opressão, criaram
mecanismos próprios de resistir no campo das idéias e fazer chegar aos leitores a sua visão-do-mundo: o sarcasmo de Luiz Gama, a dramaticidade de Cruz e Sousa, a técnica de Machado de Assis e o protesto veemente de Lima Barreto. Quatro autores e suas distintas características de ver e atuar na sociedade que enriqueceram, ao longo do tempo, expressão dos afro-brasileiros por meio da literatura.

Os Cadernos Negros

Em meados de 1978, surgem os Cadernos Negros, na senda daqueles autores e também de tantos outros, como Lino Guedes e Solano Trindade. Destacam-se as atuações de Cuti (Luiz Silva, na foto) e Hugo Ferreira, cabendo a este último a idéia do título da série Cadernos Negros e ao primeiro a execução do projeto durante seus cinco primeiros anos.

Mais tarde, em 1980, surge o Quilombhoje, como resultado de reuniões informais de poetas. Com o propósito de discutir temas ligados à negritude e literatura, o grupo passou também a realizar as Rodas de Poemas - forma coletiva de declamação, com o emprego de canto e instrumentos musicais - reverenciando personalidades negras como Pixinguinha, Luiz Gama, Agostinho Neto entre outros. Só em 1982, os Cadernos Negros ficaram sob responsabilidade do agora Quilombhoje Literatura, dando contornos institucionais à luta dos autores afro-brasileiros.

Os gêneros literários sempre se revezaram - ora poemas, ora contos -
mantendo a linha de cooperação e participação dos autores e, por vezes, de orientação e apoio na produção e estímulo à leitura destes trabalhos. Neste ano, os Cadernos Negros chegam ao trigésimo número da série, em 30 anos de história, e há a promessa de um evento comemorativo deste feito.

Negroesia

O lançamento de Negroesia, décima obra de Cuti (Luiz Silva) foi mais uma etapa dessa história. Antologia poética que reúne uma seleção de poemas e textos do autor, já publicados em suas outras obras e na coleção Cadernos Negros, acrescidos de onze poemas inéditos, Negroesia apresenta também um recital homônimo, com direção de Beta Nunes, autora e diretora da peça A Mulher do Chapéu (2006).

Fotos: o escritor Cuti (Luiz Silva)

"Meu interesse está no futuro porque é lá que vou passar o resto da minha vida."
"Se você está compromissado com o seu objetivo, é possível!"

21 de agosto de 2006

CONTOS AFRICANOS

PUBLICAÇÕES EDITADAS PELA FCP – 2003/2007



Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket IansãWeb

Iansã: Iansã é um Orixá feminino muito famoso, sendo uma das mais populares figuras entre os mitos do Candomblé no Brasil, em Portugal e em África, onde é predominantemente cultuada sob o nome de Oyá. Para apresentar mais detalhes sobre a história desta importante orixá, a FCP/MinC lança esta cartilha ilustrada falando sobre a orixá, através de belas ilustrações e conta a história de Iansã com uma narrativa criativa e atual.

Leia a publicação http://www.palmares.gov.br/sites/000/2/publicacoes/iansaweb.pdf
(Fonte: Fundação Palmares



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Cantos e re-encantos: vozes africanas e afro-brasileiras
Andréia Lisboa de Sousa 1
Ana Lúcia Silva Souza 2

Os mitos são, realmente, as histórias sociais que curam. Isso porque nos são mais do que o desfecho moral que aprendemos associar, há muito tempo, às quadrinhas infantis e aos contos de fada. Lidos apropriadamente, os mitos nos deixam harmonizados com os eternos mistérios do ser, nos ajudam a lidar com as inevitáveis transições da vida e fornecem modelos para o nosso relacionamento com as sociedades em que vivemos e para o relacionamento dessas sociedades com o mundo que partilhamos com todas as formas de vida (FORD, Clyde W. O herói com rosto africano. Mitos da África ).

O objetivo deste texto é ressaltar a importância dos contos, orais e escritos, africanos e afro-brasileiros, destacando-os como marcas das experiências humanas de um povo ao longo dos tempos. São narrativas com rosto africano.

A história e a memória de vários povos africanos adentram e permanecem como parte de nossa cultura. Cultura essa materializada, em especial, na literatura oral expressa pelos mitos, lendas, provérbios, contos etc., ou, ainda, servindo como base da literatura escrita desta natureza.

No Brasil, uma das matrizes que informam a tradição oral diz respeito às influências dos africanos aqui escravizados que para cá vieram, guardiões e guardiãs responsáveis por recriar a memória dos fatos e feitos de seus antepassados, ressignificando a vida nos novos lugares de morada. Foram também poetas, músicos, dançarinos, estudiosos, mestres, conselheiros, denominados, de modo geral, como contadores de histórias.

Trouxeram para cá o significado da palavra na cultura africana – o uso da palavra se constitui no diálogo, no argumento e no conselho, que se mostraram como práticas essenciais do dia-a-dia nas comunidades Para a cultura africana, as palavras têm um poder de ação, e ignorar aquilo que é pronunciado e verdadeiro é cometer uma falha grave, que pode ser comparada ao ato de tirar uma parte dos elementos essenciais do nosso corpo, o que nos faria perder a vida ou uma parte de nós.

Recorremos a Amadou Hampâté Bâ, filósofo, escritor e intelectual africano, para exemplificar a relação entre a palavra, o conhecimento e o saber vivenciados na escola dos mestres da palavra :

Um mestre contador de histórias africano não se limitava a narrá-las, mas podia também ensinar sobre numerosos outros assuntos (...) porque um ‘conhecedor' nunca era um especialista no sentido moderno da palavra mas, mais precisamente, uma espécie de generalista. O conhecimento não era compartimentado. O mesmo ancião (...) podia ter conhecimentos profundos sobre religião ou história, como também ciências naturais ou humanas de todo tipo. Era um conhecimento (...) segundo a competência de cada um, uma espécie de ‘ciência da vida'; vida, considerada aqui como uma unidade em que tudo é interligado, interdependente e interativo; em que o material e o espiritual nunca estão dissociados. E o ensinamento nunca era sistemático, mas deixado ao sabor das circunstâncias, segundo os momentos favoráveis ou a atenção do auditório (Bâ, 2003, p. 174-175).

Como aponta Bâ, o poder da palavra garante e preserva ensinamentos, uma vez que possui uma energia vital, com capacidade criadora e transformadora do mundo. Energia que possui diferentes denominações para as diversas civilizações, por exemplo, para os bantus essa energia é hamba, já para o povo iorubá a energia é o axé .

Tal é a importância da palavra na África que existe um papel específico desempenhado pelos profissionais da tradição oral – os griots – pessoas que têm o ofício de guardar e ensinar a memória cultural na comunidade. Eles armazenam séculos e mais séculos de segredos, crenças, costumes, lendas e lições de vida, recorrendo à memorização. Existem também mulheres que exercem essas funções, conhecidas como griotes. Hampâté Bâ comenta sobre uma célebre cantora, Flateni, antiga griote do rei Aguibou Tall, cujos “cantos arrancavam lágrimas até dos mais empedernidos” (2003, p. 255). Há ainda outras categorias de contadores de histórias na África, como os Doma 3 , tidos como os mais nobres contadores, porque desempenham o papel de criar harmonia, de organizar o ambiente e as reuniões da comunidade. Eles jamais podem usar a mentira, pois isso faria com que perdessem sua energia vital, provocando um desequilíbrio no grupo ao qual pertencem ( Caderno de Educação – África Ilê Aiyê, 2001).

A tradição oral pode ser vista como uma cacimba de ensinamentos, saberes que veiculam e auxiliam homens e mulheres, crianças, adultos/as velhos/as a se integrarem no tempo e no espaço e nas tradições. Sem poder ser esquecida ou desconsiderada, a oralidade é uma forma encarnada de registro, tão complexa quanto a escrita, que se utiliza de gestos, da retórica, de improvisações, de canções épicas e líricas e de danças como modos de expressão.

Mais uma vez recorrendo a Bâ: “ A escrita é uma coisa, e o saber, outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem. É a herança de tudo que nossos ancestrais puderam conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente (Tierno Bokar, apud Bâ, 2003, p. 175).

É interessante salientar que hoje nós temos a escrita como forma de apontamento de nossas memórias, mas que ela não é a única forma de registrarmos os conhecimentos, a oralidade serviu e serve para preservar a cultura africana no Brasil.

Nas trilhas das histórias afro-brasileiras

De acordo com Nelly Novaes Coelho, não temos mais os contadores “ descendentes dos narradores primordiais, isto é, aqueles que não inventavam: contavam o que tinham ouvido e ou conhecido” e que “ representavam a memória dos tempos a ser preservada pela palavra e transmitida de povo para povo ou de geração para geração ” (Coelho, 2000, p. 109) . Contudo, podemos afirmar que a tradição de narrar mantém a sua força. Como escreve Celso Sisto, “ O homem já nasce praticamente contando histórias. Está inserido numa história que o antecede e com certeza irá sucedê-lo” (Sisto, 2001, p. 91).

Todos nós temos histórias para contar, imersos que estamos, ainda que por vezes sem perceber, no patrimônio cultural informado por mitos, lendas, provérbios, contos, canções, sátiras de todas as matrizes.

As narrativas orais expressam hábitos e valores cujo compartilhamento se dá no ambiente familiar, religioso, comunitário, escolar. Todo este patrimônio está no corpo e na mente das pessoas, onde quer que elas estejam.

Essas histórias, que também estão nos livros, nos jornais, na rede informatizada, sugerem troca, intimidade e proximidade e, conforme Ford “ nos ajudam a lidar com as inevitáveis transições da vida e fornecem modelos para o nosso relacionamento com as sociedades em que vivemos e para o relacionamento dessas sociedades com o mundo que partilhamos com todas as formas de vida (Ford, 1999, p. 9).

As culturas africanas e afro-brasileiras preservam, também na escrita, narrativas que podem ser associadas ao que a crítica literária ocidental classifica como contos, lendas, fábulas, provérbios, canções, etc. É fundamental compreender que a base de todas as histórias guarda reminiscências na tradição oral.

As narrativas literárias são textos estéticos, lúdicos, que suscitam a criatividade, o imaginário da/o leitora/or. Nesse tipo de texto predominou uma referência a se seguir, em que as personagens brancas reinavam como padrão de representação literária e, por muito tempo, esse modelo ocidental eurocêntrico foi quase que exclusivo. Esse contexto vem sendo alterado pelas ações dos movimentos sociais negros, pelas influências de novas visões e concepções de educação, além dos dispositivos legais que atualmente orientam os currículos das escolas.

Há, atualmente, vários livros publicados que se propõem a desvendar o universo de algumas culturas africanas e da afro-brasileira. Só para citar alguns temos: Bichos da África , Volumes I, II, III e IV, Contos ao redor da fogueira e Histórias africanas para contar e recontar , de Rogério Barbosa; Que mundo Maravilhoso , de Julius Lester; Bruna e a galinha d'Angola , de Gercilga de Almeida; A cor da vida , de Semíramis Paterno; Tanto, Tanto , de Trish Cooke; Chica da Silva , de Lia Vieira e As tranças de Bintou, de Sylviane Diouf. Existem outros dentro do mercado editorial, o qual tem se interessado pelo tema, apresentando novas opções.

Encontramos também livros que retomam traços e símbolos da cultura negra, tais como: a capoeira, a dança, os mecanismos de resistência diante das discriminações e outros que fazem alusão direta às religiões de matriz africana ou que remetem às divindades afro-brasileiras: Pai Adão era Nagô , de Inaldete Andrade; Rainha Quiximbi; O presente de Ossanha; Gosto de África e Dudu Calunga , de Joel Rufino; Na terra dos Orixás , de Ganymedes José; Lenda dos orixás para crianças , de Maurício Pestana; Ifá, o adivinho , Xangô, o rei do trovão , Os príncipes do destino : histórias da mitologia afro-brasileira , de Reginaldo Prandi.

Júlio Emilio Braz, por exemplo, nos estimula a imergir no universo de algumas lendas africanas, a fim de aguçar nossa curiosidade, durante a leitura. Afinal, indaga ele:

Quantas histórias sobre os tuaregues, o lendário povo nômade do norte da África, já ouviram?

Qualquer um deles conhece a história de reinos tão poderosos quanto desconhecidos como de Ghana e Achanti? E sobre um império Mali? O que ouviram? Songai? Kanem-bornu? Bambara?

Pouco ou nada se falou sobre a África para os jovens de hoje, afrodescendentes ou não. E quando se falou, buscou-se mais a discussão sobre as religiões ou o folclore, quando não o estereótipo. Para muitos a África ainda é um mistério ou, pior ainda, quando aparece nos noticiários, é como palco de terríveis guerras civis, epidemias pavorosas ou de países muito próximos de barbárie, onde a civilização parece não existir (2002, p. 4-5).

Ao ampliar nossos conhecimentos, bem como desenvolver com os alunos e alunas projetos e aulas significativos, perceberemos que o universo afro-brasileiro é múltiplo e que existem várias Áfricas que informam nossa cultura. Nas palavras de Braz:

Na verdade, não existe apenas uma África, mas incontáveis, ricas em histórias e tradições. Do norte islamizado até o sul dividido em incontáveis crenças e religiões, muitas delas fruto dos anos de colonização européia, passando por uma surpreendente diversidade ecológica e geográfica que vai dos desertos escaldantes como o Saara e o Kalahari às maravilhas florestais como Okavango e às extensas savanas em países como o Quênia (2001, p. 4).

Ainda como nos alerta o autor, é importante estarmos atentos e re -vermos o quanto a cultura africana impregnou-se na cultura brasileira:

A riqueza étnica é impressionante, responsável por uma herança cultural e artística e precisamos conhecê-la, uma vez que ainda a conhecemos pouco, apesar de a África ter uma influência decisiva nos hábitos e nos costumes mesmo daqueles brasileiros que não são afrodescendentes (Braz, 2001, p. 4 e 5).

Tecendo os pontos para contar os contos

O aqui e agora dos espaços das narrativas, com seus personagens intrigantes, enredos carregados de metáforas e desfechos surpreendentes, falam de valores importantes para descortinar as múltiplas dimensões da vida na sociedade atual. Conhecer este universo significa poder contribuir, em sentido amplo, para a promoção da igualdade das relações étnico-raciais na escola e fora dela.

Talvez uma das maiores riquezas do trabalho com os contos seja o exercício da busca coletiva, da pesquisa, das trocas e das descobertas. Os contos, sejam eles orais ou escritos, estão por toda a parte para serem recolhidos e oferecidos para nosso deleite, num tecido poético bordado de símbolos e ensinamentos.

Para Clarissa Estes, nas histórias estão incrustadas orientações que nos guiam a respeito da complexidade da vida. Elas se apresentam, muitas vezes, como ingredientes medicinais, que aliviam, que curam:

As histórias são bálsamos medicinais. (...). Elas têm uma força! Não exigem que se faça nada, que se seja nada, que se aja de nenhum modo – basta que prestemos atenção. A cura para qualquer dano ou para resgatar algum impulso psíquico perdido nas histórias. Elas suscitam interesse, tristeza, perguntas, anseios e compreensões que fazem aflorar [imagens do nosso inconsciente](...). No entanto, (...) em cada fragmento de história está a estrutura do todo (Clarissa Estes, 1999, p. 30).

Começar a busca em nosso acervo de memória pode ser significativo, considerando que estes conhecimentos, de alguma maneira, fazem parte de nossa formação identitária. Quais contos já ouvimos ou lemos? Quando foi? Quem nos apresentou as narrativas? Quais foram os sentimentos e emoções mobilizados?

Este pode ser um primeiro passo. Olhar para nós e para nossa história de vida, para saber que lugar ocupam os contos, os mitos, os provérbios, e nos prepararmos para, no ambiente escolar, lançar mão de ações simples e organizadas e contribuir para as artes de falar e de escutar, destacando as fundamentais para a convivência e o exercício da cidadania na atual sociedade.

Como destaca Rogério Barbosa sobre a arte de contar histórias:

Seja bem-vindo ao mundo da literatura oral. (...) Não se limite apenas a ler ou a ouvir. Vibre intensamente com as histórias como se fizesse parte da atenta platéia.

Aprecie os contos que explicam a origem do comportamento de determinados habitantes da floresta. Depois, leia as histórias em voz alta e tente reproduzir o andar e os diálogos travados pelos incríveis personagens. Afinal, as histórias, principalmente na África, foram feitas para serem contadas e recontadas. (...)

Uma das tradições africanas são os contos etiológicos, que procuram explicar as origens das coisas e o comportamento de determinados animais. Histórias africanas para contar e recontar surgiu de uma seleção e adaptação desses contos... (Barbosa, 2004 – introdução e biografia).

Ampliando horizontes: o ofício de fazer

A seguir, apontamos algumas possibilidades. É com a mão na massa que podemos pensar as nossas posturas investigativas, repensar atividades escolares como espaços de um diálogo emocionado:

• Convidar nossos/as colegas professores para o exercício de rememorar as narrativas que fazem parte das histórias pessoais, o que pode ser bastante instigante. Trabalhar em grupo, nas reuniões pedagógicas, é também excelente oportunidade para analisar o projeto político- pedagógico da escola, verificando quais são os compromissos firmados no sentido de conhecer a história, valorizar a memória e a herança cultural dos diferentes povos. Quais são as atividades e projetos que a escola, ou parte dela, já realiza ou realizou? Como têm sido desenvolvidas e divulgadas?

• Incentivar a prática da pesquisa junto aos alunos e alunas. Discuta e elabore com eles a coleta de depoimento oral de pessoas da família ou da comunidade. O que importa neste momento é valorizar as histórias e investir na construção de um mapa cultural e social, que pode ajudar na construção de uma rede de sociabilidade, fortalecendo a auto-estima dos envolvidos neste processo. É importante também pensar na sistematização e comunicação do material coletado;

• Dinamizar as reuniões de responsáveis, pais e mães, fazendo também desta oportunidade um espaço de valorização de saberes, de trocas e descobertas, por meio da coleta e ressignificação das memórias dos contos. As reuniões também são boas oportunidade para que as pessoas presentes conheçam os projetos que estão sendo desenvolvidos na escola e tenham contato com os livros e outros materiais trabalhados no espaço escolar;

• Realizar buscas na internet, para conhecer sites de países africanos e conhecer contos que estão disponíveis na rede, tais como: www.casadasfricas.com.br ; www.mestredidi.org ; www.mundonegro.com.br;www.portalafro.com.br , www.navedapalavra.com.br/ www.docedeletra.com.br .

• Buscar outras fontes, tais como filmes, um deles Kiriku e a feiticeira , narrativa africana encantadora traduzida para a linguagem fílmica. Acessar séries educativas, como os programas de vídeo do projeto A Cor da Cultura 4 ( www.acordacultura.org.br ), a série Repertórios Afro-Brasileiros , veiculada pela TV Escola/Programa Salto para o Futuro, em 2004, dentre outras ( www.tvebrasil.com.br/salto) . Conhecer as experiências de professores, voltadas para a promoção da igualdade racial/étnica no ambiente escolar, as quais foram selecionadas e divulgadas pelo Prêmio Educar para a Igualdade Racial do CEERT ( www.ceert.org.br ).

• Visitar, em feiras e congressos, os estandes de editoras e ONGs, buscando materiais especificamente relacionados à temática. O mercado editorial tem investido na produção de materiais sobre diversidade. São dezenas de livros que, analisados com critérios, enriquecem o trabalho;

• Estabelecer contato com grupos do movimento social negro e outras entidades para conjuntamente organizar eventos – atividades, cursos, palestras – que valorizem a cultura e a história africana e afro-brasileira e sejam incorporados ao projeto político-pedagógico e ao currículo da escola.

M antendo a tradição africana, de trabalhar coletivamente, mostra-se fundamental pensar com a comunidade escolar outras possibilidades de tessitura de relações com compromisso. Desta forma, salientamos que o trabalho com os contos é interdisciplinar e pode tomar um dos lugares centrais no projeto político-pedagógico e nos currículos das escolas, de forma a disseminar e valorizar o uso da palavra oral, como uma das mais importantes modalidades da linguagem. Afinal, somos contadores e contadoras de histórias.

O ato de contar, de ouvir histórias parece ainda manter um sentido universal que reside na sustentação do espaço de sociabilidade. Contar história é trocar, compartilhar vivências e saberes. Trata-se de escutar a voz do outro que, ao contar, exerce O direito de ler em voz alta , como aponta Pennac em Direitos Imprescritíveis do Leitor 5 .

A possibilidade de escolher determinada história nos permite ocupar o lugar de um griot e o próprio poder de usar a fala pode ser tomado como um espaço de auto-afirmação. Trata-se de escutar a voz do outro. E quem escuta aprende a respeitar e deleitar-se na voz da outra pessoa.

Continuando a conversa: libertando vozes

Quando nos referimos à cultura afro-brasileira, sempre fazemos uso dos incontáveis conhecimentos e saberes trazidos por outros povos e pelos africanos escravizados em suas estratégias de resistência e construção de suas identidades – o canto, as rezas, os gestos corporais, o som dos instrumentos, os usos da palavra cantada ou versada. Todos esses elementos se entrelaçam e comunicam e nos comunicam algo sobre nosso território, nossa cultura, nossa língua, enfim, nossa história.

Podemos ser os novos guardiões e guardiãs, responsáveis por construir novas histórias, re- criar enredos éticos e dignos, valorizar culturas e sermos portadores das vozes esquecidas de um passado mais longínquo (dos mitos, dos ancestrais), assim como de um passado mais próximo, de séculos de ocultamento da história da África como matriz da trajetória da humanidade. Basta abrir as portas e deixar as histórias aflorarem:

Espero que vocês saiam e deixem que as histórias lhes aconteçam, que vocês as elaborem, que as reguem com seu sangue, suas lágrimas e seu riso até que elas floresçam, até que você mesma esteja em flor. Então, você será capaz de ver os bálsamos que elas criam, bem como onde e quando aplicá-los. É essa a missão. A única missão (Estes, 1999, p. 570).

A missão do poder da palavra está conosco. Basta sabermos usá-la, como os sábios contadores de outrora, e mergulharmos nos mistérios desconhecidos, que nos revelam como lidar com os conflitos, com as mudanças, com as diferenças, com a convivência em sociedade nas singularidades das formas de ser e viver.

Novos conceitos são construídos por meio da disseminação de outras idéias e concepções, capazes de promover e sustentar comportamentos favoráveis à convivência e ao respeito, à igualdade nas relações entre crianças e jovens, homens e mulheres para além do aspecto jurídico, constituído pelo princípio de que todos os homens são iguais perante a lei.

Fica o convite ao compromisso para desfiar a trama cultural, nos seus múltiplos sentidos e tessituras, recuperar, produzir histórias e – na própria voz dos sujeitos – buscar formas de alterar as condições atuais, contar ou retomar outras novas histórias, coletivamente, como rezam as tradições das Áfricas.

As leis contam e aumentam pontos

Atualmente, a cultura africana e afro-brasileira está na agenda educacional de nosso País. É importante ressaltar que o movimento social negro brasileiro – incluímos também o movimento de mulheres negras – nas últimas décadas do século XX e início do XXI – tem desempenhado papel preponderante nessa tendência de valorização da cultura negra, por meio de suas denúncias e reivindicações. Todo esse contexto permite, gradativamente, vislumbrar livros de Literatura Infanto-Juvenil com novas propostas (Lisboa de Sousa, 2005).

Vale chamar a atenção em relação à alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de n°. 9.394/96 (LDBEN), trazida pela Lei Federal de n°. 10.639/03, que torna obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial de Ensino e da regulamentação da Lei 10.639/03 pelo Parecer CNE/CP 003/2004 e pela Resolução CNE/CP 1/2004, que dispõem sobre as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

De acordo com o Parecer, é fundamental a:

Edição de livros e de materiais didáticos, para diferentes níveis e modalidades de ensino, que atendam ao disposto neste parecer, em cumprimento ao disposto no Art. 26A da LDB, e, para tanto, abordem a pluralidade cultural e a diversidade étnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e equívocos em obras já publicadas sobre a história, a cultura, a identidade dos afrodescendentes, sob o incentivo e supervisão dos programas de difusão de livros educacionais do MEC – Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE).

A Resolução retoma esse assunto quando informa no Art. 7º que “Os sistemas de ensino orientarão e supervisionarão a elaboração e edição de livros e outros materiais didáticos, em atendimento ao disposto no Parecer CNE/CP 003/2004”. Esses dispositivos legais são fundamentais para as mudanças atuais na história da educação no país, pois contribuem para que educadores, gestores, editores, leitores etc., possam redimensionar as práticas de leitura e a concepção de livros de literatura.

Em 2005, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), por intermédio da Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão Educacional, enviou ofícios para várias editoras, informando sobre os dispositivos legais acima citados, com o intuito de que as editoras inscrevessem livros sobre o tema no Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE). As Diretrizes do referido Programa apontavam o tema da diversidade como enfoque. O resultado foi positivo, na medida em que livros importantes sobre o tema foram selecionados em 2005, aos quais os/as educadores/as e estudantes terão acesso via PNBE.

Por um lado, algumas Secretarias de Educação organizaram materiais específicos para contemplar a cultura afro-brasileira. À guisa de exemplo, temos a Bibliografia Afro-Brasileira na Rede Municipal de São Paulo /SP, distribuída em 2003; o Kit de Literatura Afro-Brasileira , da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte/MG, distribuído em 2004;

o material orientador sobre relações raciais e cultura afro-brasileira da Secretaria Municipal de Educação de Salvador/BA e o material de formação de professores da Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul.

As leis estão saindo fora do papel e ganhando corpo, uma vez que educadores de Norte a Sul do Brasil, cada vez mais, realizam diversas atividades em sala de aula. E ao apresentarem, lerem, interpretarem, narrarem contos, aumentam pontos. Da mesma forma, ao partilharem conhecimentos, valorizam e estimulam o respeito à diversidade. Salientamos que tais ações precisam integrar os currículos das escolas e serem incorporadas ao cotidiano escolar.

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ZATZ, Lia. Jogo duro: era uma vez uma história de negros que passou em branco . São Paulo: Pastel Editorial, 1989.

Notas:

1 Doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Mestre em Educação pela FEUSP. I ntegra a Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros - ABPN. Fellow do Fundo Riochi Sasakaua/USP. Consultora na área de Educação e Relações Étnico-Raciais. Atualmente, é pesquisadora sobre cultura afro-brasileira em materiais didático-pedagógicos e Sub-Coordenadora de Políticas Educacionais da CGDIE/SECAD/MEC.

2 Doutoranda em Lingüística Aplicada - Unicamp/IEL. Estuda as interfaces entre práticas de letramento, relações raciais e juventude. I ntegra a Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros - ABPN - SP. Organiza e assessora projetos relacionados à leitura e à dinamização de acervos de literatura. Coordenadora do VI Concurso Negro e Educação pela Ação Educativa/ANPED.

3 Conforme mencionado no Caderno de Educação – África Ilê Aiyê (2001, p. 25) “Os profissionais da tradição mais reconhecidos na África tradicional e contemporânea são os Griots e os Domas.

Os Griot é um nome de origem Bambará, para personagens africanos denominados contadores de histórias, que eles sabem de memória e acumulam, reunindo séculos e mais séculos de crenças, costumes, lendas, contos, lições de sabedoria. O Doma é a categoria mais nobre de contadores de história, aquele que tem o papel de criar harmonia, de colocar ordem em volta do ambiente, da audiência nas reuniões da comunidade”.

4 A Cor da Cultura é um projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira, realizado por uma parceria entre o Canal Futura, a Petrobras, o Cidan – Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, a TV Globo, MEC/ e a Seppir – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

5 Daniel Pennac, no livro Como um romance (p. 139), aponta os 10 direitos imprescritíveis do leitor: O direito de não ler; de pular páginas, de não terminar de ler um livro; de reler; de ler qualquer coisa; ao bovarismo (doença textualmente transmissível); o direito de ler em qualquer lugar, de ler uma frase aqui e outra ali, de ler em voz alta, de calar.


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