21 de agosto de 2006

CONTOS AFRICANOS

PUBLICAÇÕES EDITADAS PELA FCP – 2003/2007



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Iansã: Iansã é um Orixá feminino muito famoso, sendo uma das mais populares figuras entre os mitos do Candomblé no Brasil, em Portugal e em África, onde é predominantemente cultuada sob o nome de Oyá. Para apresentar mais detalhes sobre a história desta importante orixá, a FCP/MinC lança esta cartilha ilustrada falando sobre a orixá, através de belas ilustrações e conta a história de Iansã com uma narrativa criativa e atual.

Leia a publicação http://www.palmares.gov.br/sites/000/2/publicacoes/iansaweb.pdf
(Fonte: Fundação Palmares



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Cantos e re-encantos: vozes africanas e afro-brasileiras
Andréia Lisboa de Sousa 1
Ana Lúcia Silva Souza 2

Os mitos são, realmente, as histórias sociais que curam. Isso porque nos são mais do que o desfecho moral que aprendemos associar, há muito tempo, às quadrinhas infantis e aos contos de fada. Lidos apropriadamente, os mitos nos deixam harmonizados com os eternos mistérios do ser, nos ajudam a lidar com as inevitáveis transições da vida e fornecem modelos para o nosso relacionamento com as sociedades em que vivemos e para o relacionamento dessas sociedades com o mundo que partilhamos com todas as formas de vida (FORD, Clyde W. O herói com rosto africano. Mitos da África ).

O objetivo deste texto é ressaltar a importância dos contos, orais e escritos, africanos e afro-brasileiros, destacando-os como marcas das experiências humanas de um povo ao longo dos tempos. São narrativas com rosto africano.

A história e a memória de vários povos africanos adentram e permanecem como parte de nossa cultura. Cultura essa materializada, em especial, na literatura oral expressa pelos mitos, lendas, provérbios, contos etc., ou, ainda, servindo como base da literatura escrita desta natureza.

No Brasil, uma das matrizes que informam a tradição oral diz respeito às influências dos africanos aqui escravizados que para cá vieram, guardiões e guardiãs responsáveis por recriar a memória dos fatos e feitos de seus antepassados, ressignificando a vida nos novos lugares de morada. Foram também poetas, músicos, dançarinos, estudiosos, mestres, conselheiros, denominados, de modo geral, como contadores de histórias.

Trouxeram para cá o significado da palavra na cultura africana – o uso da palavra se constitui no diálogo, no argumento e no conselho, que se mostraram como práticas essenciais do dia-a-dia nas comunidades Para a cultura africana, as palavras têm um poder de ação, e ignorar aquilo que é pronunciado e verdadeiro é cometer uma falha grave, que pode ser comparada ao ato de tirar uma parte dos elementos essenciais do nosso corpo, o que nos faria perder a vida ou uma parte de nós.

Recorremos a Amadou Hampâté Bâ, filósofo, escritor e intelectual africano, para exemplificar a relação entre a palavra, o conhecimento e o saber vivenciados na escola dos mestres da palavra :

Um mestre contador de histórias africano não se limitava a narrá-las, mas podia também ensinar sobre numerosos outros assuntos (...) porque um ‘conhecedor' nunca era um especialista no sentido moderno da palavra mas, mais precisamente, uma espécie de generalista. O conhecimento não era compartimentado. O mesmo ancião (...) podia ter conhecimentos profundos sobre religião ou história, como também ciências naturais ou humanas de todo tipo. Era um conhecimento (...) segundo a competência de cada um, uma espécie de ‘ciência da vida'; vida, considerada aqui como uma unidade em que tudo é interligado, interdependente e interativo; em que o material e o espiritual nunca estão dissociados. E o ensinamento nunca era sistemático, mas deixado ao sabor das circunstâncias, segundo os momentos favoráveis ou a atenção do auditório (Bâ, 2003, p. 174-175).

Como aponta Bâ, o poder da palavra garante e preserva ensinamentos, uma vez que possui uma energia vital, com capacidade criadora e transformadora do mundo. Energia que possui diferentes denominações para as diversas civilizações, por exemplo, para os bantus essa energia é hamba, já para o povo iorubá a energia é o axé .

Tal é a importância da palavra na África que existe um papel específico desempenhado pelos profissionais da tradição oral – os griots – pessoas que têm o ofício de guardar e ensinar a memória cultural na comunidade. Eles armazenam séculos e mais séculos de segredos, crenças, costumes, lendas e lições de vida, recorrendo à memorização. Existem também mulheres que exercem essas funções, conhecidas como griotes. Hampâté Bâ comenta sobre uma célebre cantora, Flateni, antiga griote do rei Aguibou Tall, cujos “cantos arrancavam lágrimas até dos mais empedernidos” (2003, p. 255). Há ainda outras categorias de contadores de histórias na África, como os Doma 3 , tidos como os mais nobres contadores, porque desempenham o papel de criar harmonia, de organizar o ambiente e as reuniões da comunidade. Eles jamais podem usar a mentira, pois isso faria com que perdessem sua energia vital, provocando um desequilíbrio no grupo ao qual pertencem ( Caderno de Educação – África Ilê Aiyê, 2001).

A tradição oral pode ser vista como uma cacimba de ensinamentos, saberes que veiculam e auxiliam homens e mulheres, crianças, adultos/as velhos/as a se integrarem no tempo e no espaço e nas tradições. Sem poder ser esquecida ou desconsiderada, a oralidade é uma forma encarnada de registro, tão complexa quanto a escrita, que se utiliza de gestos, da retórica, de improvisações, de canções épicas e líricas e de danças como modos de expressão.

Mais uma vez recorrendo a Bâ: “ A escrita é uma coisa, e o saber, outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem. É a herança de tudo que nossos ancestrais puderam conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente (Tierno Bokar, apud Bâ, 2003, p. 175).

É interessante salientar que hoje nós temos a escrita como forma de apontamento de nossas memórias, mas que ela não é a única forma de registrarmos os conhecimentos, a oralidade serviu e serve para preservar a cultura africana no Brasil.

Nas trilhas das histórias afro-brasileiras

De acordo com Nelly Novaes Coelho, não temos mais os contadores “ descendentes dos narradores primordiais, isto é, aqueles que não inventavam: contavam o que tinham ouvido e ou conhecido” e que “ representavam a memória dos tempos a ser preservada pela palavra e transmitida de povo para povo ou de geração para geração ” (Coelho, 2000, p. 109) . Contudo, podemos afirmar que a tradição de narrar mantém a sua força. Como escreve Celso Sisto, “ O homem já nasce praticamente contando histórias. Está inserido numa história que o antecede e com certeza irá sucedê-lo” (Sisto, 2001, p. 91).

Todos nós temos histórias para contar, imersos que estamos, ainda que por vezes sem perceber, no patrimônio cultural informado por mitos, lendas, provérbios, contos, canções, sátiras de todas as matrizes.

As narrativas orais expressam hábitos e valores cujo compartilhamento se dá no ambiente familiar, religioso, comunitário, escolar. Todo este patrimônio está no corpo e na mente das pessoas, onde quer que elas estejam.

Essas histórias, que também estão nos livros, nos jornais, na rede informatizada, sugerem troca, intimidade e proximidade e, conforme Ford “ nos ajudam a lidar com as inevitáveis transições da vida e fornecem modelos para o nosso relacionamento com as sociedades em que vivemos e para o relacionamento dessas sociedades com o mundo que partilhamos com todas as formas de vida (Ford, 1999, p. 9).

As culturas africanas e afro-brasileiras preservam, também na escrita, narrativas que podem ser associadas ao que a crítica literária ocidental classifica como contos, lendas, fábulas, provérbios, canções, etc. É fundamental compreender que a base de todas as histórias guarda reminiscências na tradição oral.

As narrativas literárias são textos estéticos, lúdicos, que suscitam a criatividade, o imaginário da/o leitora/or. Nesse tipo de texto predominou uma referência a se seguir, em que as personagens brancas reinavam como padrão de representação literária e, por muito tempo, esse modelo ocidental eurocêntrico foi quase que exclusivo. Esse contexto vem sendo alterado pelas ações dos movimentos sociais negros, pelas influências de novas visões e concepções de educação, além dos dispositivos legais que atualmente orientam os currículos das escolas.

Há, atualmente, vários livros publicados que se propõem a desvendar o universo de algumas culturas africanas e da afro-brasileira. Só para citar alguns temos: Bichos da África , Volumes I, II, III e IV, Contos ao redor da fogueira e Histórias africanas para contar e recontar , de Rogério Barbosa; Que mundo Maravilhoso , de Julius Lester; Bruna e a galinha d'Angola , de Gercilga de Almeida; A cor da vida , de Semíramis Paterno; Tanto, Tanto , de Trish Cooke; Chica da Silva , de Lia Vieira e As tranças de Bintou, de Sylviane Diouf. Existem outros dentro do mercado editorial, o qual tem se interessado pelo tema, apresentando novas opções.

Encontramos também livros que retomam traços e símbolos da cultura negra, tais como: a capoeira, a dança, os mecanismos de resistência diante das discriminações e outros que fazem alusão direta às religiões de matriz africana ou que remetem às divindades afro-brasileiras: Pai Adão era Nagô , de Inaldete Andrade; Rainha Quiximbi; O presente de Ossanha; Gosto de África e Dudu Calunga , de Joel Rufino; Na terra dos Orixás , de Ganymedes José; Lenda dos orixás para crianças , de Maurício Pestana; Ifá, o adivinho , Xangô, o rei do trovão , Os príncipes do destino : histórias da mitologia afro-brasileira , de Reginaldo Prandi.

Júlio Emilio Braz, por exemplo, nos estimula a imergir no universo de algumas lendas africanas, a fim de aguçar nossa curiosidade, durante a leitura. Afinal, indaga ele:

Quantas histórias sobre os tuaregues, o lendário povo nômade do norte da África, já ouviram?

Qualquer um deles conhece a história de reinos tão poderosos quanto desconhecidos como de Ghana e Achanti? E sobre um império Mali? O que ouviram? Songai? Kanem-bornu? Bambara?

Pouco ou nada se falou sobre a África para os jovens de hoje, afrodescendentes ou não. E quando se falou, buscou-se mais a discussão sobre as religiões ou o folclore, quando não o estereótipo. Para muitos a África ainda é um mistério ou, pior ainda, quando aparece nos noticiários, é como palco de terríveis guerras civis, epidemias pavorosas ou de países muito próximos de barbárie, onde a civilização parece não existir (2002, p. 4-5).

Ao ampliar nossos conhecimentos, bem como desenvolver com os alunos e alunas projetos e aulas significativos, perceberemos que o universo afro-brasileiro é múltiplo e que existem várias Áfricas que informam nossa cultura. Nas palavras de Braz:

Na verdade, não existe apenas uma África, mas incontáveis, ricas em histórias e tradições. Do norte islamizado até o sul dividido em incontáveis crenças e religiões, muitas delas fruto dos anos de colonização européia, passando por uma surpreendente diversidade ecológica e geográfica que vai dos desertos escaldantes como o Saara e o Kalahari às maravilhas florestais como Okavango e às extensas savanas em países como o Quênia (2001, p. 4).

Ainda como nos alerta o autor, é importante estarmos atentos e re -vermos o quanto a cultura africana impregnou-se na cultura brasileira:

A riqueza étnica é impressionante, responsável por uma herança cultural e artística e precisamos conhecê-la, uma vez que ainda a conhecemos pouco, apesar de a África ter uma influência decisiva nos hábitos e nos costumes mesmo daqueles brasileiros que não são afrodescendentes (Braz, 2001, p. 4 e 5).

Tecendo os pontos para contar os contos

O aqui e agora dos espaços das narrativas, com seus personagens intrigantes, enredos carregados de metáforas e desfechos surpreendentes, falam de valores importantes para descortinar as múltiplas dimensões da vida na sociedade atual. Conhecer este universo significa poder contribuir, em sentido amplo, para a promoção da igualdade das relações étnico-raciais na escola e fora dela.

Talvez uma das maiores riquezas do trabalho com os contos seja o exercício da busca coletiva, da pesquisa, das trocas e das descobertas. Os contos, sejam eles orais ou escritos, estão por toda a parte para serem recolhidos e oferecidos para nosso deleite, num tecido poético bordado de símbolos e ensinamentos.

Para Clarissa Estes, nas histórias estão incrustadas orientações que nos guiam a respeito da complexidade da vida. Elas se apresentam, muitas vezes, como ingredientes medicinais, que aliviam, que curam:

As histórias são bálsamos medicinais. (...). Elas têm uma força! Não exigem que se faça nada, que se seja nada, que se aja de nenhum modo – basta que prestemos atenção. A cura para qualquer dano ou para resgatar algum impulso psíquico perdido nas histórias. Elas suscitam interesse, tristeza, perguntas, anseios e compreensões que fazem aflorar [imagens do nosso inconsciente](...). No entanto, (...) em cada fragmento de história está a estrutura do todo (Clarissa Estes, 1999, p. 30).

Começar a busca em nosso acervo de memória pode ser significativo, considerando que estes conhecimentos, de alguma maneira, fazem parte de nossa formação identitária. Quais contos já ouvimos ou lemos? Quando foi? Quem nos apresentou as narrativas? Quais foram os sentimentos e emoções mobilizados?

Este pode ser um primeiro passo. Olhar para nós e para nossa história de vida, para saber que lugar ocupam os contos, os mitos, os provérbios, e nos prepararmos para, no ambiente escolar, lançar mão de ações simples e organizadas e contribuir para as artes de falar e de escutar, destacando as fundamentais para a convivência e o exercício da cidadania na atual sociedade.

Como destaca Rogério Barbosa sobre a arte de contar histórias:

Seja bem-vindo ao mundo da literatura oral. (...) Não se limite apenas a ler ou a ouvir. Vibre intensamente com as histórias como se fizesse parte da atenta platéia.

Aprecie os contos que explicam a origem do comportamento de determinados habitantes da floresta. Depois, leia as histórias em voz alta e tente reproduzir o andar e os diálogos travados pelos incríveis personagens. Afinal, as histórias, principalmente na África, foram feitas para serem contadas e recontadas. (...)

Uma das tradições africanas são os contos etiológicos, que procuram explicar as origens das coisas e o comportamento de determinados animais. Histórias africanas para contar e recontar surgiu de uma seleção e adaptação desses contos... (Barbosa, 2004 – introdução e biografia).

Ampliando horizontes: o ofício de fazer

A seguir, apontamos algumas possibilidades. É com a mão na massa que podemos pensar as nossas posturas investigativas, repensar atividades escolares como espaços de um diálogo emocionado:

• Convidar nossos/as colegas professores para o exercício de rememorar as narrativas que fazem parte das histórias pessoais, o que pode ser bastante instigante. Trabalhar em grupo, nas reuniões pedagógicas, é também excelente oportunidade para analisar o projeto político- pedagógico da escola, verificando quais são os compromissos firmados no sentido de conhecer a história, valorizar a memória e a herança cultural dos diferentes povos. Quais são as atividades e projetos que a escola, ou parte dela, já realiza ou realizou? Como têm sido desenvolvidas e divulgadas?

• Incentivar a prática da pesquisa junto aos alunos e alunas. Discuta e elabore com eles a coleta de depoimento oral de pessoas da família ou da comunidade. O que importa neste momento é valorizar as histórias e investir na construção de um mapa cultural e social, que pode ajudar na construção de uma rede de sociabilidade, fortalecendo a auto-estima dos envolvidos neste processo. É importante também pensar na sistematização e comunicação do material coletado;

• Dinamizar as reuniões de responsáveis, pais e mães, fazendo também desta oportunidade um espaço de valorização de saberes, de trocas e descobertas, por meio da coleta e ressignificação das memórias dos contos. As reuniões também são boas oportunidade para que as pessoas presentes conheçam os projetos que estão sendo desenvolvidos na escola e tenham contato com os livros e outros materiais trabalhados no espaço escolar;

• Realizar buscas na internet, para conhecer sites de países africanos e conhecer contos que estão disponíveis na rede, tais como: www.casadasfricas.com.br ; www.mestredidi.org ; www.mundonegro.com.br;www.portalafro.com.br , www.navedapalavra.com.br/ www.docedeletra.com.br .

• Buscar outras fontes, tais como filmes, um deles Kiriku e a feiticeira , narrativa africana encantadora traduzida para a linguagem fílmica. Acessar séries educativas, como os programas de vídeo do projeto A Cor da Cultura 4 ( www.acordacultura.org.br ), a série Repertórios Afro-Brasileiros , veiculada pela TV Escola/Programa Salto para o Futuro, em 2004, dentre outras ( www.tvebrasil.com.br/salto) . Conhecer as experiências de professores, voltadas para a promoção da igualdade racial/étnica no ambiente escolar, as quais foram selecionadas e divulgadas pelo Prêmio Educar para a Igualdade Racial do CEERT ( www.ceert.org.br ).

• Visitar, em feiras e congressos, os estandes de editoras e ONGs, buscando materiais especificamente relacionados à temática. O mercado editorial tem investido na produção de materiais sobre diversidade. São dezenas de livros que, analisados com critérios, enriquecem o trabalho;

• Estabelecer contato com grupos do movimento social negro e outras entidades para conjuntamente organizar eventos – atividades, cursos, palestras – que valorizem a cultura e a história africana e afro-brasileira e sejam incorporados ao projeto político-pedagógico e ao currículo da escola.

M antendo a tradição africana, de trabalhar coletivamente, mostra-se fundamental pensar com a comunidade escolar outras possibilidades de tessitura de relações com compromisso. Desta forma, salientamos que o trabalho com os contos é interdisciplinar e pode tomar um dos lugares centrais no projeto político-pedagógico e nos currículos das escolas, de forma a disseminar e valorizar o uso da palavra oral, como uma das mais importantes modalidades da linguagem. Afinal, somos contadores e contadoras de histórias.

O ato de contar, de ouvir histórias parece ainda manter um sentido universal que reside na sustentação do espaço de sociabilidade. Contar história é trocar, compartilhar vivências e saberes. Trata-se de escutar a voz do outro que, ao contar, exerce O direito de ler em voz alta , como aponta Pennac em Direitos Imprescritíveis do Leitor 5 .

A possibilidade de escolher determinada história nos permite ocupar o lugar de um griot e o próprio poder de usar a fala pode ser tomado como um espaço de auto-afirmação. Trata-se de escutar a voz do outro. E quem escuta aprende a respeitar e deleitar-se na voz da outra pessoa.

Continuando a conversa: libertando vozes

Quando nos referimos à cultura afro-brasileira, sempre fazemos uso dos incontáveis conhecimentos e saberes trazidos por outros povos e pelos africanos escravizados em suas estratégias de resistência e construção de suas identidades – o canto, as rezas, os gestos corporais, o som dos instrumentos, os usos da palavra cantada ou versada. Todos esses elementos se entrelaçam e comunicam e nos comunicam algo sobre nosso território, nossa cultura, nossa língua, enfim, nossa história.

Podemos ser os novos guardiões e guardiãs, responsáveis por construir novas histórias, re- criar enredos éticos e dignos, valorizar culturas e sermos portadores das vozes esquecidas de um passado mais longínquo (dos mitos, dos ancestrais), assim como de um passado mais próximo, de séculos de ocultamento da história da África como matriz da trajetória da humanidade. Basta abrir as portas e deixar as histórias aflorarem:

Espero que vocês saiam e deixem que as histórias lhes aconteçam, que vocês as elaborem, que as reguem com seu sangue, suas lágrimas e seu riso até que elas floresçam, até que você mesma esteja em flor. Então, você será capaz de ver os bálsamos que elas criam, bem como onde e quando aplicá-los. É essa a missão. A única missão (Estes, 1999, p. 570).

A missão do poder da palavra está conosco. Basta sabermos usá-la, como os sábios contadores de outrora, e mergulharmos nos mistérios desconhecidos, que nos revelam como lidar com os conflitos, com as mudanças, com as diferenças, com a convivência em sociedade nas singularidades das formas de ser e viver.

Novos conceitos são construídos por meio da disseminação de outras idéias e concepções, capazes de promover e sustentar comportamentos favoráveis à convivência e ao respeito, à igualdade nas relações entre crianças e jovens, homens e mulheres para além do aspecto jurídico, constituído pelo princípio de que todos os homens são iguais perante a lei.

Fica o convite ao compromisso para desfiar a trama cultural, nos seus múltiplos sentidos e tessituras, recuperar, produzir histórias e – na própria voz dos sujeitos – buscar formas de alterar as condições atuais, contar ou retomar outras novas histórias, coletivamente, como rezam as tradições das Áfricas.

As leis contam e aumentam pontos

Atualmente, a cultura africana e afro-brasileira está na agenda educacional de nosso País. É importante ressaltar que o movimento social negro brasileiro – incluímos também o movimento de mulheres negras – nas últimas décadas do século XX e início do XXI – tem desempenhado papel preponderante nessa tendência de valorização da cultura negra, por meio de suas denúncias e reivindicações. Todo esse contexto permite, gradativamente, vislumbrar livros de Literatura Infanto-Juvenil com novas propostas (Lisboa de Sousa, 2005).

Vale chamar a atenção em relação à alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de n°. 9.394/96 (LDBEN), trazida pela Lei Federal de n°. 10.639/03, que torna obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial de Ensino e da regulamentação da Lei 10.639/03 pelo Parecer CNE/CP 003/2004 e pela Resolução CNE/CP 1/2004, que dispõem sobre as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

De acordo com o Parecer, é fundamental a:

Edição de livros e de materiais didáticos, para diferentes níveis e modalidades de ensino, que atendam ao disposto neste parecer, em cumprimento ao disposto no Art. 26A da LDB, e, para tanto, abordem a pluralidade cultural e a diversidade étnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e equívocos em obras já publicadas sobre a história, a cultura, a identidade dos afrodescendentes, sob o incentivo e supervisão dos programas de difusão de livros educacionais do MEC – Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE).

A Resolução retoma esse assunto quando informa no Art. 7º que “Os sistemas de ensino orientarão e supervisionarão a elaboração e edição de livros e outros materiais didáticos, em atendimento ao disposto no Parecer CNE/CP 003/2004”. Esses dispositivos legais são fundamentais para as mudanças atuais na história da educação no país, pois contribuem para que educadores, gestores, editores, leitores etc., possam redimensionar as práticas de leitura e a concepção de livros de literatura.

Em 2005, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), por intermédio da Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão Educacional, enviou ofícios para várias editoras, informando sobre os dispositivos legais acima citados, com o intuito de que as editoras inscrevessem livros sobre o tema no Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE). As Diretrizes do referido Programa apontavam o tema da diversidade como enfoque. O resultado foi positivo, na medida em que livros importantes sobre o tema foram selecionados em 2005, aos quais os/as educadores/as e estudantes terão acesso via PNBE.

Por um lado, algumas Secretarias de Educação organizaram materiais específicos para contemplar a cultura afro-brasileira. À guisa de exemplo, temos a Bibliografia Afro-Brasileira na Rede Municipal de São Paulo /SP, distribuída em 2003; o Kit de Literatura Afro-Brasileira , da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte/MG, distribuído em 2004;

o material orientador sobre relações raciais e cultura afro-brasileira da Secretaria Municipal de Educação de Salvador/BA e o material de formação de professores da Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul.

As leis estão saindo fora do papel e ganhando corpo, uma vez que educadores de Norte a Sul do Brasil, cada vez mais, realizam diversas atividades em sala de aula. E ao apresentarem, lerem, interpretarem, narrarem contos, aumentam pontos. Da mesma forma, ao partilharem conhecimentos, valorizam e estimulam o respeito à diversidade. Salientamos que tais ações precisam integrar os currículos das escolas e serem incorporadas ao cotidiano escolar.

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BARRY, Boubacar. Sengâmbia: o desafio da história regional. Rio de Janeiro: Sephis – Centro de Estudos Afro-asiáticos, 2000.

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Notas:

1 Doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Mestre em Educação pela FEUSP. I ntegra a Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros - ABPN. Fellow do Fundo Riochi Sasakaua/USP. Consultora na área de Educação e Relações Étnico-Raciais. Atualmente, é pesquisadora sobre cultura afro-brasileira em materiais didático-pedagógicos e Sub-Coordenadora de Políticas Educacionais da CGDIE/SECAD/MEC.

2 Doutoranda em Lingüística Aplicada - Unicamp/IEL. Estuda as interfaces entre práticas de letramento, relações raciais e juventude. I ntegra a Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros - ABPN - SP. Organiza e assessora projetos relacionados à leitura e à dinamização de acervos de literatura. Coordenadora do VI Concurso Negro e Educação pela Ação Educativa/ANPED.

3 Conforme mencionado no Caderno de Educação – África Ilê Aiyê (2001, p. 25) “Os profissionais da tradição mais reconhecidos na África tradicional e contemporânea são os Griots e os Domas.

Os Griot é um nome de origem Bambará, para personagens africanos denominados contadores de histórias, que eles sabem de memória e acumulam, reunindo séculos e mais séculos de crenças, costumes, lendas, contos, lições de sabedoria. O Doma é a categoria mais nobre de contadores de história, aquele que tem o papel de criar harmonia, de colocar ordem em volta do ambiente, da audiência nas reuniões da comunidade”.

4 A Cor da Cultura é um projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira, realizado por uma parceria entre o Canal Futura, a Petrobras, o Cidan – Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, a TV Globo, MEC/ e a Seppir – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

5 Daniel Pennac, no livro Como um romance (p. 139), aponta os 10 direitos imprescritíveis do leitor: O direito de não ler; de pular páginas, de não terminar de ler um livro; de reler; de ler qualquer coisa; ao bovarismo (doença textualmente transmissível); o direito de ler em qualquer lugar, de ler uma frase aqui e outra ali, de ler em voz alta, de calar.


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